Vamos começar esse assunto abordando o tema Setembro Amarelo, nome dado ao mês em que é realizada uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo, além de suas formas de prevenção.
Números no Brasil e no Mundo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorram, no Brasil, 12 mil suicídios por ano. No mundo, são mais de 800 mil ocorrências, isto é, uma morte por suicídio a cada 40 segundos, conforme o primeiro relatório mundial sobre o tema, divulgado pela OMS, em 2014.
Ainda de acordo com a OMS, o suicídio é a segunda maior causa de morte de pessoas com idades entre 15 e 19 anos no mundo. No Brasil, números do Mapa da Violência de 2014 mostram que, entre 2000 e 2012, a taxa de suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos aumentou em 40%, enquanto entre jovens de 15 a 19 anos o índice cresceu 33%.
Prevenção na busca pelo sentido da vida
Segundo dados do Centro de Valorização da Vida (CVV), cerca de 90% dos suicídios são evitáveis. Por isso falar de prevenção é tão importante em relação a este tema que já se tornou um problema de saúde pública.
Para o Coordenador da Pós-Graduação do IPOG em Logoterapia e Análise Existencial e Psicólogo, Sam Cyrous, uma importante forma de prevenção é a falar sobre o sentido da vida. Aprender a lidar com frustrações e ver o ser humano em sua tridimensionalidade, também são caminhos.
Quer saber mais? Confira a entrevista com o Professor:
Por que precisamos falar sobre prevenção ao suicídio, já que este era um tema “velado” até há pouco tempo?
O tema está velado porque continuamos vivendo em um mundo onde as pessoas se condenam por causa de uma perspectiva subjetiva da moralidade. Quando as crenças condenam o suicídio, na verdade elas fazem um apelo a estarmos mais atentos a cada uma das pessoas que, a cada 40 segundos no nosso planeta, tira a sua vida. Penso que o tema esteja “velado”, como você diz em sua pergunta, porque encontramos a cada morte a nossa responsabilidade em não estendermos a nossa mão, não pararmos a correria do dia a dia e escutarmos as pessoas que nos têm chamado por socorro.
Somos responsáveis pelo suicídio?
Não individualmente, mas talvez socialmente. Vivemos sem questionar numa sociedade que encoraja a competição, ter mais do que o outro — mais dinheiro, mais status, mais graus acadêmicos, mais curtidas em redes digitais.
Isso leva às pessoas a usarem outras para ter mais, usarem pessoas como recursos, como algo que lhes é útil e descartar as que seriam consequentemente “inúteis”. As nossas crianças aprendem a ter notas e não a aguçarem suas consciências. Os adultos almejam sucesso e não o bem-estar. E quando não se consegue essa coleção de coisas a “ter”, instala-se frustração, desânimo, desamparo, e até sensação de um vazio interno. E quando consegue e não há mais nada a “ter”, também!
O mesmo acontece com aquelas pessoas que buscam prazer. Fazem coisas porque lhes faz bem. Essas pessoas não aprendem a lidar com pequenas frustrações, como a fome, os imprevistos ou o trânsito, nem com as maiores como uma discussão em casa ou uma demissão. Parece que perdem o chão! E sentem o mesmo vazio que os que mencionei acima.
É como se lhes faltasse algo?
Exatamente. Preenchem o vazio de suas existências com prazer e poder, quando na verdade, somos seres movidos a busca de um sentido para as nossas vidas.
Nesses momentos de maior dor, nos perguntamos “para quê estou aqui?” e quando começamos a refletir sobre isso, estamos no caminho da cura.
Mas no imediatismo que vivemos, muitos não têm tempo para refletir sobre isso e quando chega a pergunta, não conseguindo a resposta imediata, sentem a dor interna. Outras pessoas não têm quem as escute, um amigo, um familiar, ou sequer sabem como e onde encontrar um psicoterapeuta que lhes ajude.
O que precisamos é sentar com pessoas, escutá-las, ajudar-lhes a refletir sobre o papel de suas dores.
E não fazemos isso, não é? O que você recomenda?
O Observatório de Bioética e Direitos Humanos dos Pacientes, em relatório recente, menciona a importância de atendimento adequado que evite o estigma, baseado em capacitação de equipes e profissionais e em programas sólidos de prevenção e pósvenção, com encaminhamento para serviços especializados. O contrário disso aumenta o sentimento de desamparo, leva a novas tentativas e ao desencorajamento de novas buscas de ajuda.
Precisamos por isso de profissionais que olham para a pessoa além do suicídio: que vejam o ser humano em toda a sua tridimensionalidade e em sua capacidade de reflexão.
E o que significa “ver o ser humano em sua tridimensionalidade”?
Todos possuímos uma dimensão física que precisa se alimentar, que tem equilíbrio hormonal, que necessita descanso. Todos temos também uma mente capaz de assimilar informações, analisar fatos, memorizar dados e sentir emoções. Muitos especialistas enxergam apenas essas duas dimensões e tratam todos os fenômenos humanos como se fossem apenas físicos ou mentais.
Mas há uma dimensão para além disso que parece estar bloqueada nos pacientes que se tentam suicidar — uma dimensão existencial profunda. E é essa dimensão que nos permite, apesar das nossas limitações psicofísicas irmos para além, buscarmos algo maior do que nós.
É isso que a Logoterapia defende?
A Logoterapia é uma ciência do ramo da psicologia que vê o ser humano apesar das suas condicionantes e ajuda a pessoa em sofrimento a ver que até o pior dos sofrimentos pode ter um sentido.
Como viver apesar da dor que sentimos no dia a dia? Como transformar essa dor em senso de realização? Como transformar a culpa por um erro do passado em senso de responsabilidade pelo futuro? E como transformar a morte em capacidade de apreciar o agora? São essas as perguntas que a Logoterapia faz a cada um, e que cabe a cada pessoa responder.
Percebendo isso, cada pessoa poderá encontrar o sentido para o seu sofrimento e para a sua vida, se tornando mais forte para enfrentar com a cabeça erguida todos os desafios que a vida lhe colocar.
É possível praticar pequenos hábitos diários que nos levem a encontrar mais o sentido da vida?
Quando percebemos que podemos contribuir através do que criamos no nosso trabalho ou meio social, e saímos do modo “cumprir tarefas” para viver a “vocação” — a voz interior nos diz como realizarmos o melhor de nós. Quando nos abrimos para a oportunidade de apreciar o bom, o belo e o verdadeiro e vivemos as experiências de amor (conjugal, familiar, fraternal).
E, mais uma vez, quando sofremos algum golpe, olhamos para eles como aulas que nos ensinam a sermos melhores, a termos uma atitude perante as dificuldades da vida, e não simplesmente nos lamentamos. É perante essas três pequenas grandes coisas que somos capazes de encontrar um sentido para o nosso dia a dia e para as nossas vidas. Aventure-se a descobrir o sentido da vida para você!
E aí, gostou da entrevista? Quer saber mais sobre o assunto? Deixe o seu comentário abaixo!