Acessibilidade no Design de Interiores

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A acessibilidade tem sido um preocupação crescente na arquitetura, principalmente a acessibilidade no design de interiores. Afinal, ao tornar um ambiente acessível, isso permite que as pessoas com necessidades especiais ou até mesmo com mobilidade reduzida possam também ter mais conforto e assim usufruírem igualmente destes espaços.  Para entender mais sobre esse assunto, conversamos a professora da Pós-Graduação do IPOG em Design de Interiores – Ambientação e Produção do Espaço, Cristianne Abreu. Confira as vantagens de investir em acessibilidade no design de interiores:

1) Em primeiro lugar, a que nos referimos quando falamos de acessibilidade? Isso envolve apenas PNEs ou também tem a ver com mobilidade, conforto, etc.?

A NBR 9050 (2015) afirma que acessibilidade “é possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida”.

A norma coloca como exclusividade às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, porém eu penso um pouco diferente. Na minha opinião, a acessibilidade vai além. Precisamos começar a pensar na diversidade humana como algo rico e de valor.

A cultura da “normalidade” e do padrão ideal me incomoda muito, pois ela tenta igualar o que não é igual, ela tenta ignorar uma diferença que é rica e que deve ser levada em consideração.

Todos nós somos beneficiados quando o ambiente/produto é acessível, porém algumas pessoas dependem disso (acessibilidade no design de interiores) para ter equiparação de oportunidades, autonomia, conforto e segurança. Tornar os ambientes/produtos acessíveis a TODOS é fundamental para melhorar a qualidade de vivência, utilização, mobilidade e conforto das pessoas.

2) Qual o maior desafio do design de interiores quando o assunto é acessibilidade?

O maior desafio do Design é pensar em atender com qualidade o maior tipo de diversidade da condição humana possível, ou seja, pensar nos princípios do Design Universal. “Temos de fazer mais para quebrar as barreiras que segregam as pessoas com deficiências e que em muitos casos os forçam a viver à margem da sociedade”, afirma Margaret Chan, diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS).

3) Ultimamente, o assunto tem ganhado mais atenção, como por exemplo sobre a utilização de sinalização tátil em calçadas. Como tem sido isso? As pessoas estão respeitando e se adaptando ou ainda há dificuldades?

O assunto (acessibilidade no design de interiores) tem sido mais discutido, principalmente por instituições que representam essa população, porém ainda pouco discutido na população de forma geral, apesar de sua relevância. Isso tende a mudar, já que o número de idosos está aumentando, e como consequência, a demografia social mudará também, o que tornará a questão mais presente.

Já existem políticas públicas, programas e campanhas para melhorar a adequação dos espaços, e assim, torná-los acessíveis. Onde isso ocorre com maior vigor, fiscalização e conscientização da população, os resultados sociais são visivelmente melhores.

Porém essa “vontade política” não ocorre com a mesma força em todo o território nacional. A falta de conscientização, educação e valorização da vida humana faz com que as pessoas se preocupem apenas no valor da multa que irão pagar, e não com o bem-estar de todos. Pensando assim, o caminho ainda é muito longo.

4) Quais são os principais recursos que uma edificação deve ter para garantir um acesso seguro e confortável a todos, ou seja, mais acessibilidade no design de interiores?

Para se obter espaços acessíveis, devemos pensar na diversidade humana, e acredito que estes pontos citados abaixo sejam os essenciais, porém não são os únicos. A NBR 9050/2015 deverá ser consultada antes de qualquer projeto. Vejam os pontos essenciais para garantir a acessibilidade no design de interiores:

  • Circulação
  1. Horizontal: devem ter no mínimo 120 cm;
  2. Vertical: elevadores, plataformas elevatórias e rampas com inclinação adequada. Na minha opinião, a rampa é mais democrática e social, ela permite que todos andem juntos, sem segregar ninguém;
  3. Rota acessível: manter bem identificada e livre de mobiliários e outras barreiras para evitar acidentes;
  4. Áreas de manobra e áreas de transferência e aproximação: bem dimensionadas e livres de obstáculos
  5. Aberturas / portas: aberturas com vãos livres de no mínimo 90cm dão maior conforto aos usuários
  6. Banheiros: acessíveis
  • Comunicação e sinalização: comunicação visual adequada (com contraste, bem localizada), comunicação sonora e tátil nos lugares adequados
  • Área de transição: deve haver uma área de transição de luminosidade, para evitar o ofuscamento e melhorar a adaptação visual, principalmente para os deficientes visuais
  • Cor: fazer diferenciação de cor entre o piso e a parede, deixando bem demarcado a área do ambiente.
  • Obs: A NBR 9050/2015 prevê acessibilidade em muitos aspectos, porém, o bem estar das pessoas também deve ser levado em consideração. Por isso, devemos ir além da norma.

5) Investir em acessibilidade e acessibilidade no design de interiores, tem um custo alto?

O custo inicial é alto sim, porém se pensarmos a longo prazo, os benefícios são incalculáveis.

6) Hoje, um profissional que deseja se destacar no mercado precisa entender também sobre como tornar um espaço mais acessível a todos. Por que isso é tão importante? Que oportunidades ele pode perder se não buscar conhecimento em acessibilidade no design de interiores?

É um mercado crescente, tendo em vista a busca, a divulgação e a conscientização das pessoas. Além disso, o envelhecimento da população mundial, o aumento da expectativa de vida e a busca pela qualidade de vida tornam essa questão mais pertinente e fundamental.

Não ter conhecimento na área pode influenciar muito na qualidade do projeto, que será usado, vivenciado e também avaliado pelas pessoas.

O relatório mundial sobre a deficiência (2012) afirma que, “a deficiência faz parte da condição humana. Quase todas as pessoas terão uma deficiência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas, e aqueles que sobreviverem ao envelhecimento enfrentarão dificuldades cada vez maiores com a funcionalidade de seus corpos. A maioria das grandes famílias possui um familiar deficiente, e muitas pessoas não deficientes assumem a responsabilidade de prover suporte e cuidar de parentes e amigos com deficiências”.

Tomando consciência disso,

planejar espaços acessíveis é essencial e primordial. Na minha opinião, é uma questão de direitos humanos. Não é concebível mais planejar espaços que discriminem as pessoas.

Diante dessas informações, já pensou na possibilidade de ampliar os seus conhecimentos em acessibilidade no design de interiores?

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Cristianne Abreu: Professora IPOG, Mestre em Engenharia Civil pela UFES, possui graduação em Arquitetura e Urbanismo também pela UFES. Atua no mercado desde 1999, com experiência profissional em espaços residenciais, gastronômicos, supermercados e instituições de Ensino, com ênfase em planejamento, projetos de Arquitetura e Interiores, Percepção Ambiental e Avaliação Pós-Ocupação; e como professora e palestrante.