Qual a posição da justiça sobre a concessão de medicamentos de alto custo?

Pills on blue tableColourful pills

A concessão de medicamentos de alto custo não disponíveis na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) deliberada por ordem judicial reflete no aumento exorbitante de custos com a saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2016, as ações judiciais relacionadas à saúde desembolsaram R$ 7 bilhões em recursos públicos. Sendo que 90% deste montante são referentes a 10 medicamentos de alto custo comprados por ordem judicial.

Segundo dados divulgados no Relatório Justiça em Números 2017 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), somente em 2016, o Poder Judiciário recebeu 312.147 processos judiciais relacionados ao fornecimento de medicamentos pelo SUS.

A partir desses dados você pode notar que são muitos casos de cidadãos que recorrem à justiça para solicitar medicamentos de alto custo não concedidos pelo SUS. E qual a posição da Justiça sobre esse fato? Confira nesse post!

Posição da Justiça sobre a concessão de medicamentos de alto custo

Você já deve saber que, de acordo com a Constituição Federal do Brasil, no artigo 196 institui que a saúde é direito de todos e dever do Estado, e pela Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, o acesso aos serviços de saúde devem seguir o princípio da universalidade.

O Supremo Tribunal Federal entende que o Estado pode ser obrigado a conceder medicamentos de alto custo para o solicitante caso seja comprovado à imprescindibilidade do mesmo baseado em evidências científicas.

Por meio de ordem judicial, o Estado deve fornecer medicamento registrado na Anvisa e também, caso não tenha similar nacional, disponibilizar fármacos importados com registro no país de origem desde que tenha a comprovação de laudo médico como o único disponível para a melhora da saúde da pessoa.

Para que a concessão de medicamentos de alto custo seja deferida pelo Poder Judiciário, são realizadas análises críticas fundamentadas cientificamente pela medicina baseada em evidências para verificar imprescindibilidade, custo benefício e eficácia do fármaco.

Para facilitar e agilizar a análise crítica para a tomada de decisão do Poder Judiciário, foi criada uma ferramenta digital muito útil para esse processo. Conheça:

Tecnologia a favor da Justiça e ao Direito à saúde

E-NatJus

A E-NatJus, Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário, é uma plataforma digital lançada pela presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, e pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, com o objetivo de disponibilizar para todos os magistrados do Brasil um banco de dados integrado à Biblioteca Cochrane, uma das principais ferramentas de busca de evidências científicas, com informações medico-científicas para fundamentar decisões judiciais relacionadas à saúde.

Com essa plataforma, o judiciário tem à disposição pareceres técnicos e bases científicas para deliberar ou não à concessão de um medicamento ou tratamento de saúde a um paciente que recorre à Justiça. Além disso, a ferramenta também é composta por procedimentos, medicamentos e produtos de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde.

Com as informações cedidas pelo E-NatJus, o Poder Judiciário terá fundamentações objetivas e seguras por meio de evidências científicas para analisar, de qualquer lugar do país, se o medicamento ou tratamento médico que está sendo solicitado é realmente necessário.

A criação dessa ferramenta digital contribui com a racionalização da judicialização da saúde. O E-NatJus está disponível no site do CNJ.

Agora que você já conhece o posicionamento jurídico quanto à concessão de medicamentos de alto custo, saiba também como a medicina baseada em evidência contribui com a racionalização da judicialização da saúde. Boa leitura!

 

Artigos relacionados

SUS: compreenda os aspectos gerais da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90 Se o seu objetivo profissional é atuar como gestor de sistema de saúde é fundamental que você conheça a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS).  O objetivo desse post é apresentar de forma compreensível os aspectos gerais da legislação do SUS, mais esp...
Ferramenta de gestão em unidades de saúde No mundo globalizado, os sistemas de saúde vêm enfrentando dificuldades decorrentes da incorporação de tecnologia na assistência, em um momento de forte crise no setor financeiro, associado à crescente demanda da população cada vez mais bem informada e exigent...
O que é Farmacovigilância? Os medicamentos têm o objetivo de promover a saúde da população. Para desenvolvê-los são necessários anos de pesquisa e testes para garantir a sua qualidade, segurança e eficácia antes de serem comercializados.  Porém, mesmo com todos os cuidados aplicados no ...
Caroline Regina dos Santos: Mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento, Doutoranda em Biotecnologia pela UFG, Conselheira da OAB-GO, Presidente da Comissão de Direito Médico, Sanitário e Defesa da Saúde, Coordenadora do MBA em Direito Médico e Proteção Jurídica Aplicada à Saúde do IPOG.