Nos últimos anos a crise hídrica tem sido estampada nos noticiários de forma constante. Somente quando a água passou a faltar nas torneiras das casas foi que a população sentiu profundamente suas consequências. Muitos atribuem essa crise à má gestão dos recursos hídricos, à poluição ambiental e até mesmo à ingerência política.
O fato é que todos esses fatores contribuem para a redução da disponibilidade desse bem essencial para a vida. O uso desregrado do solo, aliado ao desmatamento, por exemplo, tem contribuído consideravelmente para a redução da quantidade de água nos cursos hídricos.
Essa ação antrópica intervém diretamente no ciclo hidrológico, quebrando-o e prejudicando os lençóis freáticos, os quais são responsáveis por alimentar os rios.
Outra questão, não menos importante, é a poluição que tem comprometido a qualidade e a abundância da água. O uso de agrotóxicos na agricultura, o despejo de esgoto e elementos químicos de indústrias, além de outras interferências humanas, prejudicam o abastecimento e podem inviabilizar o sistema de saneamento, o que eleva gastos com mecanismos de manutenção.
Existem políticas públicas que destinam recursos financeiros para o sistema de saneamento, contudo, ainda são insuficientes. Nesse sentido, esses sistemas tornam-se deficitários, ainda mais por não acompanharem a expansão urbana, a qual desenvolve de forma desordenada, com ocupação de lugares cada vez mais distantes dos sistemas de saneamento. Com isso, é preciso levantar mais investimentos para que a água chegue a todos.
Recentemente, o Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC, destinou aportes financeiros para serem investidos em saneamento no Brasil. No entanto, o valor foi muito aquém da necessidade, uma vez que os sistemas estão sucateados há mais de 30 anos, sem investimentos e programas de governo.
O último foi na década de 1970, época do PLANASA, quando foi implantada a maioria dos sistemas de abastecimento de água e redes coletoras de esgoto, devido ao fato de a população ter acometido doenças provenientes da veiculação hídrica, o que impactou significativamente na saúde pública.
Diante dos inúmeros fatores que contribuem para a crise hídrica, a qual já é realidade em muitas cidades brasileiras e as tem forçado a praticar rodízio na distribuição de água potável, é essencial unir forças para enfrentar os desafios impostos por ela. O primeiro passo pode ser a prática da política nacional dos recursos hídricos, em vigor desde 1997.
A situação é bem crítica e procurar por um único culpado é algo inútil. Todos nós somos responsáveis por essa crise e, nesse momento, precisamos reconhecer nossas ações e trabalhar para atuarmos de forma diferente, preocupados com a garantia de um futuro possivelmente habitável, com água disponível.
A responsabilidade da Academia
A academia, por sua vez, entra neste processo com um papel fundamental, assumido com a formação e aprimoramento de profissionais, capacitando-os para desenvolverem técnicas e métodos capazes de minimizar os impactos antrópicos nos ciclos hídricos, alinhando-os aos interesses da agricultura, indústrias, hidrelétricas, sociedade e poder público.
Além disso, é importante, assim como a realização do 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, planejar eventos, ações e participar de comitês que tragam à população inovações e conscientização a respeito do uso, da economia e reuso da água.
Também podemos participar desse movimento cobrando das autoridades uma atuação mais efetiva no que diz respeito à preservação da água e proteção do meio ambiente e, acima de tudo, fazer o uso consciente e comedido desse bem finito e indispensável para a nossa vida.