A narrativa sobre os problemas da Educação no Brasil é conhecida em muitas dimensões.
Profissionais de várias áreas que dialogam com esse contexto buscam entender o ciclo de desgaste que consome diariamente discentes e docentes, além de tentar oferecer soluções para um problema complexo.
É nesse processo de repensar a educação e os diversos vieses da dinâmica do ensino-aprendizagem que surgem caminhos inexplorados pela Psicologia, mais especificamente pela psicanálise.
Psicanálise e Educação, juntos, encontram um importante ponto de diálogo ao tornar o desenvolvimento humano e os desafios desse processo como objeto de estudo.
Assim, considerando a história que atravessa esse diálogo e as contribuições da Psicanálise, fica claro que o investimento na construção de mais interlocução entre as áreas é algo a ser explorado.
Neste artigo, vamos abordar:
- Freud e a Educação;
- contribuições da Psicanálise para a Educação;
- como elas podem ser colocadas em prática;
- como profissionais da educação podem lidar com demandas emocionais de alunos;
- o papel dos novos operadores de aprendizado;
- áreas de atuação possíveis para quem deseja trabalhar com Psicanálise e Educação;
- perspectivas de trabalho na área de Psicanálise e Educação.
Além do divã está a sala de aula: Psicanálise e Educação, um caminho em comum?
Para Freud, educar era uma das três tarefas impossíveis, ao lado de governar e curar.
Entender qual a relação entre Psicanálise e Educação foi uma tarefa sobre a qual Freud se debruçou ao longo da elaboração de sua obra, fazendo referências à educação, seja no âmbito escolar ou num contexto mais amplo como a cultura.
Embora a Educação não seja propriamente um tema de grande relevância em sua obra, a importância dos insights e mesmo reflexões contraditórias de Freud abriram e ainda suscitam várias pesquisas sobre o que é aprender e o que é ensinar.
Nessas reflexões que se desenvolvem ao longo de anos, fica claro que não se deve confundir a psicanálise clínica com a prática pedagógica. Na relação professor-aluno, não temos um analista e um analisado. Falta a “situação analítica” de que falava Freud.
Por fim, com a introdução da concepção de um educador com saber psicanalítico, chegamos ao proposto pela pesquisadora Maria Kupfer, que considera ser possível uma transmissão da Psicanálise além daquela que pode ser feita no divã.
Quais foram as contribuições da Psicanálise para a Educação?
Historicamente, a Psicanálise possui um grande legado de interferências na área educacional, tanto mudanças que foram positivas quanto negativas.
De início, profissionais pós-freudianos transgrediram as limitações freudianas referentes à Psicanálise e Educação e começaram a propor modelos educacionais pautados em conceitos psicanalíticos. Contudo, essas intervenções restringiram o sujeito do inconsciente ao âmbito individual.
Hoje, a visão já é diferente. Pensar o sujeito do inconsciente nos diversos ambientes da Psicologia, como clínicas e instituições, é possibilitar outro olhar para os que estão envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Com esse “novo” olhar, é possível reconhecer que em ambas as partes há sujeitos de desejo e é por meio disso que os indivíduos ali envolvidos podem construir e transmitir sua marca histórica como resultados dos processos educacionais. Afinal, é pela via do desejo que o sujeito faz relação com o que está à sua volta.
Nesse sentido, essa transmissão pode ser compreendida como um processo de aprendizagem, que se dá sempre em uma construção mútua entre educador e educandos. É reconhecer que o espaço educativo precisa ter cuidado com os estudantes para além dos conteúdos específicos programados.
Dito isso, a Psicanálise e a Educação contribuem uma com a outra ao elucidar que o espaço educativo precisa também desenvolver trabalhos que abarquem o cuidado com os aspectos emocionais, já que é claro que esses fatores interferem significativamente no desempenho escolar do sujeito.
Outra contribuição da Psicanálise para o contexto educacional é reconhecer e trabalhar com todos os processos transferenciais que envolvem o processo de aprendizagem. A Psicanálise busca entender como esses aspectos são estabelecidos e como podem ser manejados pelo educador para potencializar o processo educativo.
Como as contribuições da Psicanálise e da Educação podem ser colocadas em prática?
A primeira coisa a se pensar é: de qual sujeito estamos falando?
Ao ter essa questão como norteadora de todas as ações, é possível reconhecer processos subjetivos que interferem nas relações e nas produções escolares presentes em todos e, ao mesmo tempo, reconhecer as particularidades de cada estudante e de cada educador.
Dessa forma, as propostas de projetos a serem desenvolvidas em longo prazo no contexto educacional são a resposta mais acertada para colocar tais contribuições em prática.
Ao propor projetos direcionados a famílias, estudantes e equipe escolar, alinhados em um mesmo discurso, oferecendo pontos de vista sobre os variados fenômenos no contexto escolar que até então, não eram reconhecidos, possibilita, acima de tudo, mais saúde psíquica e emocional.
Afinal, é um consenso que, para que o processo ensino-aprendizagem ocorra da melhor forma possível, os estudantes precisam estar saudáveis emocionalmente, da mesma forma que a transmissão de um saber a ser dado pela equipe escolar depende dessa saúde psíquica.
Desenvolver projetos de fundamentação é uma forma prática e eficaz de aplicar a Psicanálise na Educação
Um exemplo prático é a necessidade do desenvolvimento de um projeto coerente em sua fundamentação para tratar assuntos como “ansiedade”, “depressão”, “automutilação”, “suicídio” em um contexto escolar com adolescentes, visto que são todos assuntos que influenciam e determinam a vivência de todos os envolvidos e que demandam intervenção.
Além dos projetos a serem desenvolvidos em longo prazo, é cada vez maior a necessidade de haver profissionais capacitados, como psicólogos ou orientadores, que oferecem um espaço de acolhimento contínuo no ambiente educacional.
Afinal, muitas vezes, os estudantes reconhecem a necessidade de expor suas angústias a outros mediadores que não família, professores e colegas de turma.
Nesse sentido, a presença de um psicólogo possibilita a intervenção direta e muitas vezes emergencial ao fazer a mediação do estudante com a família e a equipe escolar, possibilitando o alinhamento de um mesmo discurso e trabalho com esse estudante em específico.
Contudo, é importante salientar um fato: apesar dos esforços, o ambiente escolar nunca deve ser tratado ou entendido como uma clínica, mas sim como espaço de acolhimento com o fim de viabilizar uma maior comunicação com todos os envolvidos.
Como os profissionais de Educação podem se preparar para lidar com as demandas emocionais desses alunos?
Em primeiro lugar, é preciso que haja o reconhecimento do “fator emocional” como um dos produtores determinantes dos processos educacionais. Tendo em vista essa posição garantida, é preciso buscar conhecimento de como esses fatores interferem e das possibilidades de se intervir frente a eles.
Sendo assim, de forma geral, os profissionais da educação necessitam buscar formações, como cursos, pós-graduações, grupos de estudos, para que, ao se deparar com demandas emocionais, saibam repensar sua origem e suas possibilidades de intervenção.
Por exemplo: quando um estudante chora em sala de aula, é preciso repensar o contexto do qual aquele choro emergiu, problematizando sempre o limite entre a validação do sentimento e a exposição desse estudante.
De forma geral, é preciso ter conhecimento sobre o processo de construção da subjetividade de cada indivíduo para que o profissional atuante no contexto educacional tenha condições de saber lidar com cada caso em sua particularidade.
Nesse sentido, qual o papel dos novos operadores de aprendizado no cenário atual da Educação?
A transformação mais assertiva para a qual a Psicanálise pode contribuir no contexto da Educação é desenvolver a escuta psicanalítica apoiada na transferência para pensar todos os processos educacionais, principalmente as possibilidades de aprendizado.
Operacionalmente, seria possibilitar um olhar clínico do professor ao analisar se o espaço escolar e a figura do educador apresentam algum sentido para a vida do educando.
Se não há investimento, o professor guiado pela escuta analítica conseguirá analisar quais interferências contribuem para que aquele não seja um espaço de aprendizado para o aluno.
Ao intervir nessa relação por meio de ações simples, como uma conversa acolhedora ou uma aproximação desvinculada dos conteúdos programáticos, por exemplo, é possível que haja uma mudança de como a figura do professor é tomada pelos estudantes.
A consequência disso é a possibilidade de uma mudança significativa do investimento do educando no espaço educacional.
Quais são as áreas de atuação possíveis para quem deseja trabalhar com Psicanálise e Educação?
O profissional pode atuar em instituições de ensino em diversas frentes. Uma das possibilidades é o campo da Psicologia Escolar, que só pode ser desenvolvida por psicólogos com registro profissional consolidado.
Contudo, para quem não possui o título, a área de Psicanálise e Educação é ainda uma possibilidade.
Profissionais com diferentes formações podem atuar com base em práticas diferenciadas, como o desenvolvimento de projetos que irão implicar em intervenções em aulas, rodas de conversa, grupos operativos, palestras para famílias, formações da equipe escolar e outros.
Todas essas atividades fazem parte da proposta do ambiente escolar de trabalhar no intuito de desenvolver as habilidades socioemocionais como exige a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Quais são as perspectivas para a carreira do profissional que investe nessa área?
Atualmente, existe uma demanda muito grande no mercado de trabalho por profissionais que possuem essa formação.
É possível notar um movimento crescente das escolas para a procura de profissionais que tenham referencial teórico e conhecimento nas diversas práticas educacionais, visando as demandas de trabalho de ordem emocional dos alunos.
Apesar de ainda não haver um regulamento que exija a presença de um psicólogo em cada instituição de ensino, a expectativa é de que essa solicitação do mercado não seja algo distante.
Cada vez mais esses ambientes têm buscado por profissionais capacitados e especialistas na área, já que reconhecem que é preciso pensar a particularidade do contexto escolar nas variadas intervenções possíveis.
Conheça o curso Psicanálise: da Clínica aos Espaços Institucionais do IPOG
Pensando nas necessidades do mercado e na formação de psicólogos, o IPOG desenvolveu esse curso, que tem como intuito incrementar o aprendizado da Psicanálise e Educação fornecendo abordagens que tornem possível a escuta clínica de educandos no ambiente escolar.
Assim, o curso irá propiciar um percurso psicanalítico com bases sólidas para a prática clínica. Dessa forma, o profissional estará habilitado a promover um espaço de estudo, discussão e reflexão crítica acerca da abordagem psicanalítica, permitindo a interlocução com diversos saberes.
Esse curso se diferencia dos demais visto que é focado na compreensão dos manejos da técnica com crianças, adolescentes e adultos em espaços instituições, como escolas, hospitais, organizações e demais instituições.
Confira algumas disciplinas ofertadas no curso!
- História do movimento psicanalítico e a atualidade da psicanálise;
- O inconsciente e suas manifestações;
- Narcisismo e teoria das pulsões;
- A constituição do sujeito;
- Técnica e clínica psicanalítica;
- O psicanalista e a psicanálise no hospital;
- A escuta do sofrimento psíquico em uma perspectiva ampliada;
- Psicanálise e Educação;
- Desejo e trabalho e outros.
O curso possui, no total, 18 disciplinas de embasamento teórico e é indicado para profissionais da área de Psicologia, Medicina, Pedagogia, Serviço Social, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Gestão de Pessoas e qualquer profissional que atue em áreas ligadas a saúde e Educação.
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Aproveite também para conferir outros conteúdos sobre o tema:
- Os desafios da gestão acadêmica nos cursos de especialização e o ensino teórico-prático
- Ensino e aprendizagem por meio de metodologias ativas!
- Habilidades socioemocionais na escola: por que falar sobre isso?
Até a próxima!
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