O treino cognitivo melhora a qualidade de vida dos portadores de doenças neurodegenerativas?

A resposta para a pergunta do título desse artigo é SIM. O treino cognitivo traz benefícios e melhora a qualidade de vida dos portadores de doenças neurodegenerativas.  Se você tem interesse em saber mais sobre esse assunto, continue a leitura e compreenderá o porquê.

O que é treino cognitivo?

O treino cognitivo é o conjunto de técnicas que contribuem para estimular as funções cerebrais e a capacidade mental. Tem o objetivo de aprimorar as habilidades cognitivas gerais, como atenção, funções executivas, memória, percepção, praxia, linguagem, entre outras, e isso tende a fazer com que o paciente consiga buscar mais estratégias de adaptação frente às demandas do dia a dia. De forma geral, a reabilitação cognitiva cumpre com as estratégias restaurativas e também de adaptação.

O que são doenças neurodegenerativas?

As doenças neurodegenerativas são síndromes que provocam a degeneração ou morte progressiva de células responsáveis pelo bom funcionamento do cérebro.

Existem várias doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento, sendo a mais frequente a Demência de Alzheimer. Um estudo realizado pela Universidade do Porto (Portugal) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constataram que em 2020 o número de casos de demência deve alcançar 1,6 milhão de pessoas com mais de 65 anos. E a previsão é de atingir um quarto da população brasileira.

Como o treino cognitivo melhora a qualidade de vida dos portadores de doenças neurodegenerativa?

Muitas vezes as pessoas acham que algumas doenças por não terem tratamento que levem a cura estarão resignadas aquele diagnóstico e nada se terá a fazer. Mas mesmo que um tratamento não mude o curso da doença, ou seja, ainda que a patologia continue progredindo, com a intervenção do treino cognitivo o paciente consegue melhorar a sua qualidade de vida, uma vez que ele terá oportunidades de melhor usufruir da qualidade geral da sua atenção, da sua percepção visual, da sua linguagem, e assim por diante.

É importante enfatizar que mesmo as doenças com progressão certeira, que a ciência ainda não descobriu a cura, podem ser minimizadas com intervenções não apenas de medicamentosas, mas também com as intervenções não-medicamentosas, por meio da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Nutrição e também com a Neuropsicologia a partir das possibilidades de treino cognitivo.

Hoje em dia a intervenção multidisciplinar é o carro chefe para a reabilitação. Um treino cognitivo que melhora a qualidade da atenção, por exemplo, pode refletir diretamente na interação social do paciente, nas suas atividades funcionais, nas suas habilidades de execução de autocuidado, no preparo das suas tarefas no ambiente doméstico e até mesmo no seu convívio em comunidade. Além disso, o treino cognitivo pode diminuir a velocidade de piora das doenças neurodegenerativas.

Comprovações de estudos recentes

Benefícios do treino cognitivo na marcha de pessoas portadoras de Parkinson

Um estudo publicado pela NPJ PARKINSON’S DISEASE apresentou os benefícios do treino cognitivo na marcha de pessoas portadoras de Parkinson. A pesquisa evidenciou que, além de melhora na marcha, o treino cognitivo melhorou a velocidade de processamento e reduziu a sonolência diurna.

Benefícios da estimulação elétrica no cérebro

Uma matéria publicada em junho de 2018, da Revista Veja, apresentou uma nova abordagem que está sendo estudada em centros de pesquisa sobre a estimulação elétrica diretamente no cérebro de pessoas para que a habilidade de memória seja melhor ativada. O mecanismo se resume em colocar alguns implantes para viabilizar a estimulação elétrica, principalmente na região do hipocampo, que fica no lobo temporal medial. Essa técnica já é utilizada na tentativa de minimizar os sinais e sintomas de doenças como Parkson e depressão.

Em relação à memória, as técnicas de estimulação elétrica tendem a ser cada vez mais específicas e benéficas ao cérebro como um todo. A intenção é que esse método seja viabilizado gradativamente, primeiro em centros hospitalares e depois em centros clínicos ambulatoriais como um todo.

O que a gente já sabe é que de fato tem uma relevância no aprimoramento da memória. E isso também, mais uma vez, não vai alterar o curso da doença, mas se conseguir estimular as regiões cerebrais que estão preservadas, é possível ter uma melhor condição de oferecer ao portador de doenças degenerativas oportunidade de aperfeiçoar as suas habilidades preservadas e consequente minimizar os efeitos deletérios da doença em si. Ainda que a ciência não consiga trazer a cura, é possível sim minimizar os danos causados pela doença.

Se você tem interesse em se aprofundar mais nesse assunto, conheça a especialização em Neuropsicologia do IPOG e se capacite para entender o funcionamento cerebral, os processos cognitivos superiores e suas relações com o comportamento humano.

Aproveite para ler o artigo: Você sabe o que é a Neuropsicologia?

Rejane Soares Ferreira: Psicóloga pela UnB, Mestre em Psicologia pela UnB, Neuropsicóloga pela PUC, Curso de Avaliação e, Tratamento da Dor Crônica pela USP,  Curso de Psicogeriatria pela USP e Professora do curso de Pós-graduação em Neuropsicologia do IPOG.