Dia da Educação: momento para refletirmos sobre como podemos fazer conviver, na pós-modernidade, os recentes avanços tecnológicos e metodológicos com a urgente necessidade de humanizarmos a vida em sociedade. Basta evocar o nome científico de nossa espécie para percebermos como estamos distantes ainda de uma educação ideal: a tradução do termo latinoHomo Sapiens é Homem Sábio.
Penso que um bom ponto de reflexão para os educadores contemporâneos é aceitarmos humildemente, pela simples força dos fatos, que não nascemos humanos. Somos sim, na melhor das hipóteses, humanizáveis.
Pesquisadores respeitados, de Piaget a Howard Gardner, têm dito que:
- Toda criança nasce egocêntrica.
- O egocentrismo infantil é caracterizado pela incapacidade de aceitar pontos de vista diferentes do seu próprio como válidos (ops! não me parece que somente as crianças sofram dessa triste limitação).
- Alcançar a maturidade psíquica significa libertar-se paulatinamente de uma percepção egocêntrica, abrindo o coração e a mente para abraçar as diferenças e, finalmente, a humanidade inteira.
Uma educação que não desperte a sensibilidade, que não desenvolva as forças de caráter, que não abra ao aluno os leques de suas próprias inteligências e talentos, que não o situe no mundo para cumprir um propósito nobre pelo uso de sua capacidade criativa, sem jamais perder o senso crítico e a autonomia de pensamento, não pode ser chamada de educação. É, no máximo, o que se convencionou chamar de ensino. Ensino temos muito, educação temos bem pouca.
Lembro-me que, com assombro, terminei de ler, aos dezesseis anos, a famosa obra de Aldous Huxley, “Admirável Mundo Novo”. Naquele distante 1981 me perguntava: “Será que chegaremos a isso? Seremos algum dia uma humanidade servil e pacata, um tanto idiotizada, em que todos alcançarão um certo grau de conforto e anestesia química, e, apesar de toda a tecnologia e até mesmo com a ajuda dela, ganharemos a feição comportamental dos rebanhos bovinos, e desperdiçaremos nossos melhores potenciais de amor e de liberdade a serviço de um sistema frio e destituído de sentido, seja ele Estatal ou Empresarial?
Trinta e quatro anos depois tenho a sensação de que esse fantasma ainda ronda as novas gerações (incluo aqui as sempre incômodas estatísticas de suicídio juvenil), e sofro com a consciência de que a maior responsabilidade por esse perigo é toda nossa, porque ainda não tivemos a coragem nem a competência para reconceituar o termo educação, e o pior: não fomos sequer capazes de realizar aquilo que anunciamos como nossos objetivos dentro de um conceito já ultrapassado. No Brasil, parece que a meta de universalizar o alfabetismo funcional ou a melhoria de alguns indicadores em concursos essencialmente cognitivos resume nossa ambição, quando ela deveria ser aquela do saudoso e querido Rubem Alves, um incansável poeta-provocador de todos nós, educadores: “educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu”.