Entenda como funciona a entrevista forense, técnica mostrada na série ‘Adolescência’
A série mais comentada de 2025 trouxe à tona uma prática pouco compreendida, mas essencial para o sistema de justiça: a entrevista forense. No terceiro episódio de Adolescência, da Netflix, a psicóloga Briony Ariston conduz uma entrevista com Jamie Miller, um garoto de 13 anos investigado pela morte brutal de uma colega de classe. A sequência ilustra como esse método é aplicado em investigações que envolvem crianças e adolescentes.
Enquanto o público esperava acolhimento e vínculo, o que a cena retratou foi o trabalho de uma psicólogo jurídico em sua atuação forense. Nesse contexto, o objetivo não é criar laços afetivos, mas sim analisar com precisão metodológica aspectos psíquicos e comportamentais que possam subsidiar decisões judiciais. Além disso, a postura da profissional — embora pareça distante — segue um protocolo estruturado, ético e pautado por evidências científicas.
Essa diferença entre escuta clínica e avaliação pericial é essencial. No entanto, ela ainda é pouco compreendida fora dos tribunais. Se você quer entender como funciona uma entrevista forense, quais são os métodos utilizados, e por que esse instrumento é tão decisivo nos bastidores da justiça, continue a leitura!
O que é uma entrevista forense? Entenda o papel do psicólogo jurídico
Diferente de uma escuta clínica ou terapêutica, a entrevista forense tem um objetivo específico: responder a uma demanda judicial. O psicólogo jurídico não atua para “curar”, mas para avaliar tecnicamente os elementos psíquicos, emocionais e comportamentais de uma pessoa envolvida em um processo judicial — seja ela vítima, acusado ou testemunha.
Segundo o pós doutor em Psicologia Lucas Guimarães, coordenador do curso de Psicologia Jurídica com Ênfase em Perícia Psicológica do IPOG, a entrevista forense exige rigor técnico e profundo senso ético:
“As entrevistas forenses seguem um roteiro técnico científico orientado pelos princípios da ética profissional, da proteção integral prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e das evidências científicas mais atualizadas.”
Contextos em que a entrevista forense é aplicada
Essa metodologia é aplicada em diversos contextos jurídicos, especialmente quando há necessidade de um parecer psicológico que subsidie decisões judiciais. A entrevista forense é amplamente utilizada, por exemplo:
- Em casos de suspeita de abuso sexual infantil, onde o psicólogo deve avaliar se a criança possui condições de relatar os fatos com consistência e espontaneidade;
- Durante processos de disputa de guarda, quando é necessário compreender os vínculos afetivos e o ambiente familiar de crianças e adolescentes;
- Em situações de violência doméstica, tanto na escuta de vítimas quanto na avaliação do agressor;
- Em crimes graves, como homicídios, quando o réu apresenta indícios de transtornos mentais e a justiça precisa avaliar sua imputabilidade penal;
- Na escuta de adolescentes em conflito com a lei, como no caso de Jamie Miller na série Adolescência, para avaliar traços de personalidade, empatia, impulsividade e possíveis fatores psicossociais relacionados ao ato infracional.
Em todos esses contextos, o foco da entrevista não está no acolhimento emocional, mas na coleta sistemática de informações que possam ser validadas, interpretadas tecnicamente e documentadas em um laudo pericial. Nesses casos, o profissional precisa equilibrar escuta sensível com neutralidade técnica, sem induzir respostas ou antecipar julgamentos.
Como é conduzida uma entrevista forense na prática
Na prática brasileira, a entrevista forense geralmente é dividida em quatro etapas fundamentais, segundo o doutor na área de Avaliação Psicológica, Lucas:
1- Acolhimento e construção de rapport: o início do contato visa criar um ambiente minimamente confortável, sem induções, mas com espaço para expressão livre;
2- Levantamento de informações contextuais: entendimento da situação familiar, escolar e social do indivíduo;
3- Fase substantiva: com técnicas específicas, como o Protocolo NICHD ou a Entrevista Cognitiva Melhorada, a coleta é guiada com cuidado extremo por perguntas abertas, evitando direcionamentos;
4 – Encerramento e encaminhamentos: o fechamento da entrevista pode incluir orientações ou recomendações terapêuticas — como fez Briony com Jamie no terceiro episódio da série.
“Uma boa entrevista forense é neutra, empática e técnica, sem antecipar juízos de valor, respeita os silêncios, as pausas e os limites do entrevistado, acolhendo sem pressionar. Não busca confissões, e sim elementos que possam fundamentar um laudo com validade científica e jurídica,” reforça Dannilo, ao falar das características de uma boa escuta forense.
Por que a empatia deve ter limites na entrevista forense?
Essa neutralidade, que muitas vezes é confundida com frieza, é ilustrada de forma marcante na série Adolescência. Logo no início de uma das cenas centrais do terceiro episódio, Briony Ariston conduz a entrevista forense de Jamie Miller. A sequência começa com a psicóloga oferecendo um sanduíche e um chocolate quente com marshmallows — um gesto simples, porém estrategicamente pensando como parte do método de avaliação.
À medida que a conversa avança, a tensão cresce. Jamie oscila entre cooperação e resistência, tenta estabelecer controle sobre a situação, desafia a psicóloga com perguntas pessoais, e em um momento chave, questiona diretamente: “Você gosta de mim?”. Briony não responde. Ainda assim, ela não desvia de seu papel, não se envolve emocionalmente. Em vez disso, apenas observa, registra e analisa.
A última sessão entre Jamie e Briony marca o desfecho da avaliação forense que será entregue à Justiça. Embora pareça uma simples conversa, cada gesto, silêncio e resposta ali têm função técnica: a psicóloga observa, analisa e coleta elementos que servirão de base para um parecer psicológico judicial. Dessa forma, diferente da psicoterapia, a entrevista forense exige neutralidade e objetividade, sem vínculos afetivos, mas sim com escuta ética e embasada, justamente para não comprometer a análise e gerar ‘contaminação’ do laudo.
Quais técnicas e métodos são utilizados na entrevista forense
A atuação do psicólogo jurídico em entrevistas forenses é orientada por um conjunto de técnicas validadas cientificamente. Entre as mais utilizadas, destacam-se:
- Entrevista Cognitiva: estimula a recuperação de memórias de forma espontânea e confiável, ajudando a reconstruir eventos com mais fidelidade, sem indução;
- Protocolo NICHD: sigla para National Institute of Child Health and Human Development, é um protocolo internacional criado para orientar entrevistas com crianças e adolescentes em contextos judiciais. Ele organiza a conversa em etapas bem definidas e neutras;
- Análise da Credibilidade do Testemunho (CBCA): avalia a veracidade do relato com base em critérios linguísticos e comportamentais;
- Identificação de simulação e dissimulação: por meio de indicadores como contradições no discurso: divergências internas no relato ou inconsistências em relação a fatos comprovados no processo; narrativas ensaiadas ou estereotipadas: relatos excessivamente detalhados ou que seguem clichês, sugerindo preparação prévia; reações emocionais inadequadas: comportamentos que destoam do conteúdo narrado, como risos ao descrever situações graves ou falta de emoção ao lembrar de episódios traumáticos.
Entretanto, Lucas alega que “nenhum instrumento isolado determina simulação. A análise deve ser conjunta, contextual e fundamentada teoricamente,” reforça.
Com isso, esses recursos permitem que o laudo final seja preciso, ético e útil ao processo judicial, seja em casos de violência doméstica, abuso infantil, disputa de guarda ou crimes violentos.
Erros comuns na condução de entrevistas forenses e o que evitar
O professor Lucas Guimarães destaca que muitos profissionais iniciantes ainda confundem a escuta clínica com a escuta pericial. Entre os erros mais comuns estão:
- Fazer perguntas sugestivas que induzam a resposta;
- Interromper a narrativa com interpretações precipitadas;
- Assumir postura investigativa em vez de avaliativas, como se fossem policiais, e não avaliadores técnicos;
- Pressionar por respostas rápidas, ignorando o tempo subjetivo do entrevistado.
Lucas enfatiza ainda que “a escuta forense deve ser imparcial, respeitosa e sustentada por técnicas específicas. Qualquer julgamento precipitado pode comprometer todo o processo pericial.”
Curso do IPOG: onde teoria e prática se unem na formação do psicólogo jurídico
Se você chegou até aqui, já percebeu que a entrevista forense exige muito mais do que saber ouvir, ela exige preparo técnico, sensibilidade apurada e uma base sólida em psicologia jurídica. E é justamente essa combinação que o IPOG oferece naPós-Graduação em Psicologia Jurídica com Ênfase em Perícia Psicológica.
Com 648 horas de formação divididas em 18 módulos (online e ao vivo), o curso é voltado para psicólogos que desejam atuar com profundidade em:
- Avaliações psicológicas forenses;
- Produção de laudos e pareceres técnicos;
- Contextos jurídicos e institucionais complexos.
Mais do que ensinar conceitos, o curso capacita o profissional para atuar com ética, rigor técnico e preparo emocional em situações delicadas e entre os diferenciais estão:
- Aplicação de protocolos reais, como o NICHD e a ECM;
- Estudos de caso simulados, baseados em demandas reais do sistema de justiça;
- Treinamento em laudos técnicos e pareceres fundamentados;
- Desenvolvimento de raciocínio crítico e sensibilidade clínica em contextos jurídicos complexos.
Para quem é o curso?
O curso é voltado para psicólogos que desejam ampliar sua atuação no campo jurídico e judicial. Mais do que isso, é indicado para quem busca contribuir com ética, embasamento técnico e impacto social em processos complexos.
Ao concluir a formação, o profissional estará totalmente preparado para atuar como:
-
Perito judicial, oferecendo pareceres técnicos à Justiça;
-
Assistente técnico, colaborando com advogados e partes interessadas;
-
Consultor forense, orientando decisões em contextos específicos;
-
Integrante de equipes multidisciplinares, em processos cíveis, criminais, trabalhistas e de família.
Além disso, o curso prepara o aluno para lidar com realidades diversas, como disputas familiares, suspeitas de abuso, violência doméstica e crimes graves. Ou seja, ele estará apto a atuar com segurança técnica e responsabilidade social.
O papel do psicólogo jurídico, nesse cenário, é complexo, desafiador e absolutamente essencial. Portanto, se você deseja mergulhar nesse universo com seriedade e compromisso ético, o IPOG é a escolha certa. Com uma formação completa e atualizada, a instituição oferece um caminho concreto para transformar conhecimento em impacto social.
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