Mente psicopata ou criminosa? A importância de uma Avaliação Psicológica

psicopata

Em setembro de 2018, a justiça de Taubaté (SP) negou o pedido de cumprimento de pena em liberdade para Suzane Richthofen. A decisão acompanha parecer do Ministério Público que se manifestou contrário à progressão do regime, após análise de teste de personalidade nos quais Suzane apresenta traços de egocentrismo, narcisismo e de influência para o desenvolvimento de condutas violentas – traços de uma pessoa psicopata –, conforme apontado por reportagem da Folha de São Paulo.

Após 15 anos, desde a prisão de Suzane, o crime ainda chama a atenção pelo crime cometido. O caso comoveu o país desde 2002, quando Suzane planejou a morte dos pais, o engenheiro Manfred e a psiquiatra Marísia.

Ainda em setembro de 2018, um dos casos que também chamou a atenção da sociedade foi o de um pai preso suspeito de matar um bebê de 6 meses com um tiro no peito, em Luziânia (GO), após usar drogas e discutir com esposa.

Infelizmente, os casos marcam a história de violência da sociedade e levantam o questionamento sobre a importância do profissional voltado para a análise psicológica desses crimes. O professor do curso de Avaliação Psicológica do IPOG, Shouzo Abe, é psicólogo Jurídico, atua com avaliação psicológica há cerca de nove anos na esfera criminal e há quatro anos com avaliações no âmbito familiar.

Ele explica que na sociedade, o que cada indivíduo apresenta hoje é resposta de suas influências (sociais, culturais, religiosas, morais etc.) durante seu desenvolvimento enquanto pessoa. “As realidades e necessidades são diferentes, então cada um responderá de acordo com isso”, complementa.

Ao comentar sobre o comportamento violento do indivíduo na sociedade, o especialista em Psicologia Jurídica pontuou alguns conceitos que fazem parte da psicopatia:

  • Egocentrismo
  • Narcisismo
  • Desenvolvimento da violência

Egocentrismo

De acordo com Shouzo Abe:

Geralmente o egocentrismo não abre espaço para o outro, que é fundamental para o convívio e existência humana. As pessoas egocêntricas apresentam alguns comportamentos como desgaste nas relações interpessoais”, aponta o especialista.

Para quem possui relações com uma pessoa egocêntrica, a troca de afeto é algo de pouquíssima existência. Uma vez que o egocêntrico está voltado apenas para sua própria necessidade.

Na sua visão há certeza de que o que ele faz é bom. E muitas pessoas se atraem por esse tipo de comportamento, pois ele aparenta ser muito seguro de si, sabe o que faz e com isso consegue controlar e manipular o outro. E quando alguém se atrai por esse comportamento, o egocêntrico tende há usar a outra pessoa para o seu próprio benefício”, comenta o professor.

O egocêntrico também diminui a importância do sistêmico, que é justamente considerar o todo. Assim, a pessoa que possui esse comportamento vai se afastando das outras pessoas. Ou seja, para o egocêntrico ele nunca é o problema.

Narcisismo

A psicanálise traz o narcisismo como um comportamento que todo indivíduo possui em certa medida.

O professor de Avaliação Psicológica destaca que o narcisismo surgiu através de um mito grego chamado de Narciso, – que ao ver sua imagem refletida, em água, apaixonou por si mesmo. O Narcisista é definido como o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si.

Mas se todo indivíduo possui um pouco de narcisismo, onde está o problema desse comportamento?

Esse é o efeito do transtorno de personalidade narcisista.

Esse transtorno é o ponto “em que a pessoa se ama tanto que não valoriza a necessidade do outro indivíduo e ainda usa este para alcançar seus desejos e intentos”, explica Shouzo Abe.

Desenvolvimento da violência

A violência ou o comportamento violento é desenvolvido no indivíduo por meio de certas influências, como:

  • Sociedade
  • Meio onde vive
  • Princípios
  • Valores

O professor evidência ainda os dois últimos pontos. “No caso dos princípios e valores isso está ligado ao que foi ensinado e a forma como a pessoa conseguiu absorver. Se uma criança cresceu em uma família saudável, no meio da escola, na prática de esportes, tendo saúde e um emocional cuidado, seu comportamento tende a ser mais saudável”, explica.

Essa mesma criança com um bom desenvolvimento na escola, mas em casa ou na comunidade em que vive possui um ambiente nocivo, violento e desrespeitador, pode desenvolver comportamentos violentos e nocivos.

O comportamento de uma criança, portanto, não é de responsabilidade somente dela e sim de todo um sistema que a estimula viver e agir de determinadas maneiras.

Psicopatia – Transtorno de personalidade antissocial

A Psicopatia é definida pelo Código de Classificação de Doenças como transtorno de personalidade antissocial. É característica de uma pessoa com baixa tolerância a frustração, falta de empatia e ao mesmo tempo tem uma descarga de agressividade exagerada, porque não tolera ser frustrada e ser egocêntrica.

Shouzo pontua que:

Umas das fortes características do psicopata é a falta de empatia, ou seja, a condição de se preocupar com outro ou de se colocar no lugar desse outro –, isso está relacionado ao comportamento do narcisista e egocêntrico”.

O psicopata possui desprezo por regras, não considera o certo e o errado.

Emocionalmente ele entende o que faz, mas impõe que tem de ser como ele deseja. O psicopata entende o certo e o errado, entende as leis, sabe das consequências, mas não considera estes, nem o outro ou a sociedade, parte de seus valores e princípios.

O psicopata consegue imitar emoções, não sente remorso ou mesmo pena. Dissimula quando quer conquistar uma pessoa para usá-la e alcançar seus objetivos”.

A psicopatia tem cura?

Conforme o professor de Avaliação Psicológica do IPOG, a psicopatia ainda não possui cura, e os estudos para o tratamento ainda são poucos no Brasil. E o país está muito lento em relação aos avanços nesse assunto.

Também não é fácil detectar um psicopata na sociedade. Porque ele age de maneira:

  • sutil
  • cuidadosa
  • cautelosa
  • arquitetada
  • premeditada

Geralmente, um psicopata é identificado apenas depois que começa a cometer certos crimes”, afirma o especialista em Psicologia Jurídica.

Todo criminoso bárbaro é psicopata?

É comum, porém um erro, na sociedade dizer que todo criminoso é psicopata!

O especialista Shouzo Abe esclarece que se observa muita confusão, pois a mídia fala muito de psicopatia e acaba contribuindo para o senso comum.

As vezes a pessoa é um pouco agressiva ou cometeu um roubo e já é chamada de psicopata. Enquanto na realidade nada disso por si só é psicopatia. Esse termo é muito mais amplo do que uma apropriação para pessoas que praticaram roubo ou assassinato”.

Para conseguir fazer esse diagnóstico, existe uma necessidade muito grande do profissional em estudar o comportamento de um psicopata e entender sobre avaliação psicológica.

A psiquiatria e a psicologia vêm avançando muito através de estudos e o desenvolvimento de instrumentos de avaliação voltados para essa área.

É um investimento e uma necessidade importante, pois é crescente a demanda deste trabalho pelo sistema jurídico para uma análise técnica que subsidie as tomadas de decisão de um processo penal.

Não se pode dizer que uma pessoa é psicopata sem a avaliação técnica”.

Shouzo alerta que não é uma tarefa fácil construir um texto de avaliação psicológica para ser lido e usado dentro do sistema jurídico.

A avaliação psicológica, apresentado através da elaboração de um laudo, tem a condição de materializar as questões psicológicas, emocionais e subjetivas. Essa materialização ajuda no entendimento desses conteúdos tão complexos e se transforma em provas concretas para subsidiar o judiciário em suas decisões”.

Tanto o sistema jurídico quanto a sociedade precisam e solicitam explicações sobre as motivações que levam, por exemplo, um pai a matar o próprio filho. A psicologia não tem todas as respostas, mas com certeza pode contribuir no entendimento dessas questões.

Na avaliação psicológica usamos instrumentos psicológicos como entrevistas, testes, observação, escuta, intervenções verbais e dinâmicas que servem para coletar dados psicológicos, é como juntar várias pedaços de peças de um quebra-cabeça psicológico, após isso vem a construção do laudo por meio da escrita.

Saber manusear  instrumentos psicológicos requer muito estudo, prática e supervisão. É um aprendizado continuado e sempre pautado na ética.

Avaliação Psicológica!

Só é possível fazer um diagnóstico daquilo que você estudou, conhece e entende.  Para que o psicólogo consiga diagnosticar a psicopatia, ele deve estudar muito sobre:

  • psicopatologia
  • psicopatia
  • comportamento antissocial
  • personalidade
  • e muito sobre avaliação psicológica.

E conforme esclarece o professor, o psicólogo não sai da faculdade sabendo fazer essa avaliação psicológica de forma tão profunda. Por isso, conheça a especialização em Avaliação Psicológica do IPOG!

A sociedade e a justiça conclamam essa contribuição dos psicólogos!

Gostou do texto? Deixe seu comentário e conheça também a história de uma psicóloga que se destacou com a especialização em avaliação psicológica!

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Shouzo Abe: Psicólogo CRP09/6488 Especialista em Psicologia Jurídica e Docência Superior, Professor Universitário e de Pós-Graduação, Psicólogo Clínico, Psicólogo Assistente Técnico, Vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia Goiás - CRP09, Presidentes das Comissões de Psicologia Jurídica, Comissão de Discentes em Psicologia, Comissão de Comunicação - CRP09. Atuou como Psicólogo Perito Criminal por cinco anos no Sistema Prisional de Aparecida de Goiânia.