Computação Forense: entenda como a perícia digital ajuda a solucionar casos, com Murilo Borges
Você já pensou que aquele e-mail que apagou talvez nunca tenha desaparecido de verdade? Pois é, no mundo digital, cada clique deixa um rastro. E, cada vez mais, esses rastros se transformam em provas decisivas em tribunais e investigações corporativas.
A computação forense é a área que reúne técnicas e metodologias para identificar, preservar e analisar dados digitais, garantindo sua validade legal. Ou seja, trata-se de um campo onde tecnologia e justiça se encontram para mostrar que, no ambiente digital, não existe crime perfeito.
Em processos trabalhistas, por exemplo, empresas têm monitorado ferramentas digitais e laudos forenses são usados para demonstrar mau uso de sistemas ou troca indevida de informações eletrônicas.
Também há aplicação da perícia digital em casos cíveis e criminais envolvendo fraudes, e-mails ou comunicações eletrônicas como provas, disputas contratuais, e para identificar responsabilidades técnicas em vazamentos ou incidentes de segurança.
A seguir, você vai ver como esse trabalho se aplica na prática e conhecer a experiência de Murilo Borges, ex-aluno da pós-graduação em Computação Forense e Segurança da Informação do IPOG, que levou o aprendizado da sala de aula direto para o tribunal.
O que é computação forense?
A computação forense pode ser definida como a ciência responsável por coletar, preservar e interpretar informações armazenadas em dispositivos eletrônicos. Essa prática permite que dados aparentemente apagados ou ocultos sejam recuperados e usados como prova legítima em juízo.
O trabalho exige cuidado extremo com a cadeia de custódia, conceito central que assegura que as evidências não foram adulteradas entre a coleta e a apresentação no tribunal. Para isso, peritos utilizam técnicas como geração de hash – uma espécie de impressão digital dos arquivos digitais.
Essa área não se limita a crimes virtuais, ela também atua em investigações internas de empresas, litígios civis e até auditorias relacionadas à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Exemplos marcantes no Brasil e no mundo
Casos emblemáticos ajudam a entender a força da computação forense:
- Carolina Dieckmann (2011): a invasão do computador da atriz levou à criação da Lei 12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, que passou a criminalizar invasões de dispositivos eletrônicos.
- Acidentes de trânsito: veículos modernos armazenam informações sobre frenagem, velocidade e localização. Esses registros já foram usados como evidência em disputas judiciais no Brasil e no exterior.
- Fraudes corporativas: metadados de documentos digitais revelam alterações em propostas e contratos, ajudando a desmontar esquemas de corrupção e licitações fraudulentas.
- Fake news: peritos conseguem identificar a origem de boatos que viralizam, permitindo que a Justiça responsabilize autores e financiadores de campanhas de desinformação.
Murilo Borges e a experiência que marcou sua carreira
Esses exemplos reforçam um ponto crucial: tudo o que é digital deixa uma marca, por menor que seja.
Em Goiás, o ex-aluno do IPOG Murilo Borges vivenciou um desafio marcante durante sua formação. Ainda na pós-graduação em Computação Forense e Segurança da Informação, ele conta que foi estimulado pelos professores a se candidatar no Tribunal de Justiça de Goiás como perito, já que a remuneração é atrativa e as convocações costumam acontecer de maneira rápida.
Segundo Murilo, não demorou muito até ser intimado pelo TJGO para atuar em um processo que envolvia a análise de sistemas utilizados em uma empresa.
Sua missão era identificar os programas instalados, verificar a conformidade com licenciamento e mensurar o impacto financeiro de eventuais irregularidades. A investigação exigiu cuidado extremo com a preservação das evidências e aplicação de técnicas rigorosas de cadeia de custódia.
O laudo final produzido por Murilo foi aceito pelo juiz e se tornou decisivo no processo, demonstrando na prática como a computação forense pode transformar dados técnicos em provas de alto valor jurídico.
Ao recordar essa experiência, Murilo destacou a importância da metodologia forense:
“Fiz um estudo das características da empresa e do que era necessário para responder ao processo. Coloquei em prática todo o procedimento da cadeia de custódia, garantindo que os dados coletados eram verídicos, não tinham sido alterados e podiam ser comprovados. Para isso, usei hash nas evidências coletadas. O resultado foi um laudo aceito pelo juiz, e para mim foi uma excelente experiência, porque pude aplicar de fato os conhecimentos adquiridos no curso,” relembra.
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Como funciona uma investigação digital
Uma investigação forense digital segue etapas bem definidas, que garantem tanto a validade técnica quanto a aceitação judicial, sendo elas:
1- Identificação: localizar dispositivos e mídias que possam conter evidências, como computadores, celulares, servidores e até sistemas embarcados em veículos.
2- Preservação: criar cópias exatas dos dados sem alterar os originais, protegendo a integridade das informações.
3- Análise: examinar arquivos, metadados e até registros aparentemente apagados em busca de informações relevantes.
4- Relatório: documentar todo o processo de forma clara, apresentando resultados que possam ser usados em tribunais ou auditorias internas.
É um trabalho que exige paciência, precisão e profundo conhecimento técnico. Mas, acima de tudo, exige respeito às normas de preservação da prova.
O olhar de Murilo sobre o aprendizado em sala de aula
Além do caso prático, Murilo lembra de momentos marcantes durante as disciplinas da pós em Computação Forense. Entre eles, uma experiência em que a turma conseguiu identificar a placa de um veículo a partir de uma foto de baixa qualidade.
“Uma das situações que mais me impressionou foi a identificação de uma placa de veículo em uma foto preta e branca, em um ângulo que, a olho nu, era impossível decifrar. O professor nos conduziu a usar uma ferramenta que permitia rotacionar e tratar a imagem e, para nossa surpresa, conseguimos ver a placa com clareza. Foi impactante, porque mostrou na prática como ferramentas de análise forense revelam detalhes invisíveis,” conta.
Essa memória mostra como o aprendizado teórico ganha vida em situações concretas, preparando os alunos para desafios reais.
Computação forense e carreira profissional
O mercado para peritos digitais cresce de forma acelerada. Segundo levantamento da Exame, profissões ligadas à investigação de crimes digitais estão entre as mais promissoras para quem gosta de resolver enigmas.
Além da atuação em tribunais, peritos forenses digitais também são contratados por empresas privadas para investigar incidentes de segurança, vazamentos de dados e espionagem corporativa. E, com a LGPD, cresce a demanda por profissionais capazes de rastrear violações e auditar sistemas.
Segundo a IBM – A International Business Machines Corporation, a computação forense também é estratégica para a prevenção de ataques cibernéticos, já que ajuda empresas a identificar vulnerabilidades e aprender com incidentes passados.
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A computação forense mostra que não existe crime perfeito no mundo digital. Um e-mail apagado, um arquivo adulterado ou um dado de GPS podem ser suficientes para mudar o rumo de um processo.
Mais do que recuperar informações, o perito digital dá voz a rastros que pareciam invisíveis. Assim como no caso do aluno egresso, Murilo Borges, a computação forense se revela como uma ferramenta essencial de justiça.
Em um mundo cada vez mais conectado, compreender e valorizar essa área é entender que, no universo digital, sempre há uma história escondida nos dados. E ela pode ser decisiva.
