IPOG na InterFORENSICS: entrevista com a Dra. Keyun Ruan da University College Dublin
A InterFORENSICS recebeu em sua programação de palestras uma das mais importantes pesquisadoras em Cloud Forensics, Cloud Security e Gerenciamento de Riscos da atualidade, a Dra. Keyun Ruan da University College Dublin. A doutora, que está pela primeira vez no Brasil, nos concedeu uma entrevista exclusiva sobre sua área de pesquisa. Confira na íntegra:
1- Qual a metodologia e técnicas utilizadas para a investigação pericial no ambiente de computação em Nuvem?
É uma resposta complicada, porque essa é uma pergunta muito ampla. Mas de forma resumida, buscamos utilizar ferramentas já existentes e disponibilizadas por empresas referência na área. Em alguns casos, quando tratamos de servidores, conseguimos usar ferramentas para extrair data, em outros, isso não é possível. Então, recorremos a venders e suas ferramentas próprias que são inovadoras para a análise de data na Nuvem.
2- Quais as principais ferramentas/softwares utilizados em uma investigação em Nuvem?
A Amazon é atualmente líder neste tipo de serviço e eles estão constantemente pesquisando e introduzindo novas capacidades forenses, como, por exemplo, o produto Amazon Glacier, que é uma ferramenta muito impressionante. Ela te permite armazenar um número infinito de data em um ambiente seguro e de extrema confiança. A previsão é que com o tempo essa segurança fique ainda mais elaborada, assim como a própria plataforma.
3- Quais os desafios para a pericia digital atuar hoje em investigação em nuvem?
Eu acho que o maior desafio na área é a questão legal da nuvem. Porque ao mesmo tempo que ela é global, existe toda uma questão jurisdicional que acaba representando uma barreira significante. Os desafios são mais legais do que tecnológicos, porque sob a ótica legal é muito difícil para a polícia brasileira apreender material para uma investigação em solo norte americano, por exemplo. Nesses caso, a polícia internacional tem que ser acionada. Além disso, essa mesma questão legal torna trabalhosa a interação com os venders.
Exemplificando, como vamos solicitar um mandato para investigar uma estrutura criada e mantida pela Amazon? Neste caso, são empresas multimilionárias e de difícil acesso. Acredito que há a necessidade da colaboração internacional para que haja uma otimização dessa questão legal e também o aprimoramento constante da área.
Atualmente, também tenho notado que há uma grande demanda pela segurança cibernética e uma procura muito grande por profissionais da área, ao mesmo tempo existem poucas pessoas capacitadas que consigam realizar o trabalho e tenham a expertise necessária para atuar nesse “ambiente”. Mas a tendência é que nos próximos anos essa área cresça ainda mais e com isso conseguiremos assegurar e otimizar a segurança mundial na nuvem.
4- Como está sendo a experiência de participar da InterFORENSICS 2017?
Estou fascinada e muito impressionada com a magnitude do evento, me senti honrada e feliz por ter sido convidada. É a minha primeira vez no Brasil e na América do Sul e tem sido uma experiência muito boa. O local do evento é muito bom também, confesso que é bem maior do que eu imaginava. O que eu mais tenho gostado é a parte acadêmica do evento, porque, como disse em minha palestra, a Microsoft quer usar DNA no armazenamento na nuvem, então o conhecimento teórico aplicado na prática é essencial para o preparo dos profissionais, de modo que os mesmos atendam as demandas deste mercado. Gostei muito também da questão das trilhas e a organização do evento. Tenho me sentido muito amparada e acolhida.
5- Em seu livro, “Cybercrime and Cloud Forensics: Applications for Investigation Processes”, você contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros. Como foi esse contato e quais foram as contribuições?
Eu organizei o material e editei o livro enquanto fazia o meu PhD e tive 21 autores colaboradores de 14 países diferentes. Então acabei demorando dois anos e meio para completar o projeto. Trabalhei com autores gregos, brasileiros, egípcios, americanos, italianos, enfim… foram muitas culturas trabalhando em prol da área. Os autores brasileiros que colaboraram foram os Srs. Dener Didoné e Ruy J.G.B de Queiroz, da Universidade Federal de Pernambuco. E foi uma experiência muito proveitosa justamente por ter sido um projeto global, já que a nuvem é um elemento global da tecnologia.
Sobre a Dra. Keyun Ruan
Doutora em ciência da computação pela University College Dublin e diplomada pela National College of Arts e Design, em Dublin, na Irlanda. Autora na Elsevier Editora, Young Global Shaper no Fórum Econômico Mundial, Especialista na Risk Assistance Network + Exchange e membro na Sandbox Network, programa de networking global de jovens empreendedores, e foi citada pelo portal Irish Independent, em 2014, como uma das jovens profissionais de destaque para o futuro da Irlanda no artigo “the 30 under 30 shaping Ireland’s future”.