Eu sou Ouvidor e faço questão de ser. Apesar de saber que vivo um ciclo nesta função, aprendi a não estar na função, eu vivo esta função. E para viver, é preciso sentir e ser. Acredito que só deixamos nosso legado, quando aquilo que fazemos, antes de passar pelo bolso ou pelo status, passa pelo coração.
Isso gera uma identidade tão forte, que o caminho passa a ser mais importante que a chegada. O amor floresce quando decidimos ser e viver aquilo que colocamos adiante. Isso dá sentido e propósito para as coisas que faço. Eu me reconheço nas atividades que exerço.
Quando eu trabalhava numa rede de fast food, me diziam que era preciso ter ketchup na veia para aguentar aquele ritmo de trabalho. Hoje, trazendo esta fala para minha área de atuação, que é ouvidoria, posso dizer que para ser ouvidor é preciso ter a polivalência do amor nas veias.
Com valores e possibilidades várias. Essas várias possibilidades de acolher, alicerçada aos sentimentos mais profundos de amor, proteção em relação ao outro, a escuta empática, habilidade de se transferir para o universo do outro compreendendo sua leitura de mundo, seu modelo mental e suas necessidades, o respeito, a confiança, a validação e a pertença, são as polivalências que correm nas veias.
Viver a vontade de ajudar a quem recorre a Ouvidoria é um desejo que vem do coração. O ponto de partida desse desejo precisa ser do coração, pois é necessário se compadecer e não medir esforços para acolher quem está à sua frente. E sem o desejo dessa busca, dessa entrega, dessa vontade, dessa polivalência de amor, o trabalho do ouvidor não fará sentido algum.
De todos os aspectos da comunicação, escutar é o mais importante. E sobre a importância crucial de se escutar eficazmente para o processo de comunicação, Carl Rogers, psicólogo e especialista em comunicação, resumiu da seguinte forma: “A inabilidade do homem para comunicar-se é resultado de sua falha para escutar de forma eficaz, com habilidade e compreensão do outro.
Escutar vai além do ficar em silêncio quando alguém está falando. Quando ouvimos de forma eficaz, isso cria e fortalece relacionamentos pessoais e profissionais. Em qualquer esfera da vida, ouvir de forma eficaz ajuda a entender os pensamentos, os sentimentos e as ações de outras pessoas.
Escutar, para o Ouvidor, é se conectar aos sentimentos daquele que fala. É gerar uma conexão com aquele ou aquela que busca a compreensão de suas necessidades, a solução para seus anseios.
Uma escuta quando legitimada fortalece a possibilidade de continuar acreditando no poder da voz. Numa voz que reivindica, que contribui, que anseia, que busca alcançar um objetivo. A Ouvidoria é um espaço que acolhe o outro e faz reverberar essa voz. É um espaço de escuta, de polivalência de amor.
O Dia do Ouvidor é comemorado no dia 16 de março, em homenagem aos profissionais que zelam pelo elo entre o cidadão e a organização. A data foi estabelecida após a promulgação da Lei nº 12.632/2012, dia em que ocorreu a fundação da Associação Brasileira de Ouvidores e Ombudsman (ABO Nacional), no ano de 1995.
Eu sou Ouvidor e faço questão de ser. Mesmo sabendo que faço parte de um ciclo, faço questão de vivê-lo.
E você? Faz questão de ser o que faz ou apenas vive o ciclo em que está?