Transtorno de personalidade limítrofe: como a psicoeducação auxilia no tratamento da síndrome

O transtorno de personalidade borderline (TPB), conhecido também como transtorno de personalidade limítrofe (TPL), é uma condição marcada por um grupo de sintomas que trazem grande instabilidade em diversas esferas da vida de uma pessoa.

Autoimagem, humor e relacionamentos são alguns dos aspectos mais afetados pelas flutuações e impulsividades características do paciente com TPB/TPL, que se pauta no temor da rejeição ou abandono real ou imaginado.

Além das oscilações emocionais, repentinas e contínuas, a pessoa com transtorno de personalidade limítrofe pode apresentar ameaças e tentativas de suicídio, automultilações, além de um comportamento manipulativo como tentativa de evitar o abandono ou o sentimento de rejeição.

É comum ainda a presença de comorbidades, como sintomas de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, uso de substâncias, entre outros.

Um estudo do National Center for Biotechnology Information aponta que 1,6% da população nos Estados Unidos sofre desse transtorno, sendo mais de 70% dos pacientes mulheres.

Neste artigo, vamos abordar como algumas ferramentas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), em especial a psicoeducação, contribuem de forma eficiente para o tratamento e bem-estar dos pacientes. Boa leitura!

Como lidar com pessoas com síndrome de borderline?

O primeiro ponto de abordagem do transtorno de personalidade limítrofe é o correto diagnóstico, antes de proceder com fármacos e psicoterapias. Para isso, é necessário levantar o histórico de alterações emocionais abruptas, comportamentos de riscos e até mesmo eventuais quadros dissociativos que possam ocorrer.

Esse diagnóstico costuma ser baseado nos parâmetros dispostos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), 5ª edição (DSM-5).

O profissional deve identificar no paciente no mínimo cinco das seguintes características:

Critérios de diagnóstico do TPB

  • Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado

  • Padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização

  • Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo

  • Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (ex.: gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar)
  • Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou auto mutilantes

  • Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade de humor (ex.: disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e, apenas raramente, de mais de alguns dias)

  • Sentimentos crônicos de vazio

  • Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (ex.: demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes)

  • Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos

Embora algumas características possam estar presentes em adolescentes e crianças, para determinar o diagnóstico, o início majoritário dos sintomas deve ser no começo da idade adulta, por volta dos 18 anos.

Frequentemente, é preciso também diferenciar bipolaridade e borderline. Enquanto o primeiro é um transtorno de humor caracterizado por episódios, o segundo refere-se a um transtorno da personalidade, aparecendo de forma contínua.

A terapia cognitivo-comportamental no transtorno de boderline

As psicoterapias para quem sofre com o transtorno de personalidade limítrofe são uma forma de reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida, fazendo com que a pessoa viva melhor cotidianamente.

Há variadas abordagens possíveis em psicoterapia, mas sem dúvida a terapia comportamental dialética, uma vertente da terceira geração da TCC, que foi desenvolvida a partir de estudos com pacientes de TPL, se destaca.

Essa linha se organiza por meio de sessões individuais e em grupo, havendo também um orientador por telefone. A meta é reduzir comportamentos impulsivos e destrutivos, resistindo às reações imediatas em eventos estressantes.

Normalmente, é uma linha bem estruturada, o que demanda compreensão do paciente sobre o funcionamento. Essa vertente está organizada em quatro módulos:

  • Módulo de mindfulness: consiste em observar emoções, pensamentos, hábitos etc., estando presente de forma plena, sem julgamentos.

  • Módulo de regulação emocional: para reconhecer e compreender as emoções, reduzindo a vulnerabilidade.

  • Módulo de tolerância ao estresse: voltado ao desenvolvimento de habilidades para sobreviver a situações de mal-estar, crises e adversidades, por meio de exposições com apoio.

  • Módulo de efetividade interpessoal: ensina o paciente a estabelecer relações saudáveis, com autorrespeito e administração de limites.

Outra abordagem que tem sido mobilizada com frequência é a terapia dos esquemas, vertente que combina a TCC e outras linhas da Psicologia a fim de identificar esquemas desadaptativos que foram sedimentados na infância e implicam os comportamentos impulsivos e destrutivos da vida adulta.

Os pacientes com transtorno de personalidade limítrofe costumam apresentar uma série de esquemas. Assim, a terapia auxilia a revisão de aspectos do passado e atuais que influenciam os problemas emocionais dos sujeitos.

Psicoeducação e o transtorno de personalidade limítrofe: importância para o paciente e para a família

Além das técnicas de exposição, como acontece no módulo de tolerância, das técnicas de habilidades sociais e no de efetividade interpessoal, uma das mais importantes ferramentas da TCC para o tratamento da personalidade limítrofe é a psicoeducação.

As terapias da linha cognitivo-comportamental caracterizam-se por uma abordagem colaborativa, ativa, diretiva, de aprendizado, fomentando a autonomia do paciente e a adesão adequada à psicoterapia.

Em linhas gerais, a psicoeducação tem se mostrado eficiente na orientação de paciente e familiares, pois permite a compreensão do transtorno enfrentado, do modelo de TCC adotado, da importância de realizar as tarefas de casa, do que são as falhas cognitivas e de como elas se relacionam com o transtorno.

Sobretudo pela psicoeducação, pacientes e familiares podem ter uma melhor aceitação e adesão do tratamento e das estratégias que propiciam mudança. Estudos indicam também a eficiência do método ao auxiliar pacientes a desenvolver mecanismos para lidar com aspectos negativos, estigmas e preconceitos.

Além de possibilitar a diminuição de sintomas residuais dos transtornos, essa ferramenta contribui para a regularidade do estilo de vida e a aquisição de hábitos saudáveis, o que é um aspecto crucial para os pacientes de TPL.

Dominar as ferramentas da TCC e ter habilidade para acioná-las de forma eficaz nas abordagens psicoterapêuticas exige capacitação sólida, pois, apesar de parecerem técnicas simples, é a combinação adequada que favorece melhores resultados.

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