A psicose infantil é um campo de estudos ainda cheio de conflitos na comunidade científica. Isso ocorre porque vários profissionais, normalmente psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, tentaram oferecer conceitos muito diversos com base em diferentes pesquisas (esquizofrenia, autismo, Asperger etc.).
Tendo surgido depois do estabelecimento da psicanálise, muitos apontam justamente em 1930 o primeiro célebre caso de psicose infantil, diagnosticado e documentado em A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego, artigo da psicanalista austríaca Melanie Klein sobre o caso Dick.
Divergências à parte, está cada dia mais claro que ter a perspectiva de diferentes profissionais cooperando para a saúde mental e o desenvolvimento infantil é o melhor caminho.
Nos casos de psicose infantil não é diferente. Veremos mais sobre este tema e como a intervenção pode contribuir positivamente nesse cenário.
O que é psicose infantil?
Ao se falar em psicose infantil, é importante salientar que a psicanálise entende a infância como um momento de estruturação do psiquismo, portanto, os quadros psicopatológicos não são fechados em uma nomenclatura diagnóstica.
Isso ocorre porque o curso do tratamento e dos eventos da vida podem gerar um destino diferente do quadro que se apresenta na infância.
Na infância, entendemos a estrutura como não-decidida, por isso entendemos que a criança possa estar em um quadro de risco psicótico, porém não podemos inferir que isto será sua forma definitiva de se organizar subjetivamente.
Dito isso, podemos entender o que chamamos de psicose infantil como um agrupamento de enfermidades nas quais se verifica uma perda de contato latente com a realidade, caracterizando um quadro mental grave.
Está associada normalmente a comportamentos bizarros, dificuldades com o afastamento da figura materna, delírios, alucinações e dificuldades de interação social que começam na infância e podem perdurar até o fim da vida.
A psicose na psicanálise
No âmbito da psicanálise, há linhas que entendem a psicose como resultado da falha na entrada do pai como função na relação mãe-bebê. Se há ausência do que Lacan chamou de Nome-do-pai, o sistema de significações e a constituição subjetiva da criança ficam comprometidos.
Dessa maneira, a criança psicótica não é capaz de elaborar uma metáfora, simbolizar, há apenas um sentido único disponível e daí surgem as alucinações como forma peculiar de se relacionar com a realidade e a linguagem.
Quais os tipos de psicose?
Na tentativa de definir psicose infantil, um conjunto de psiquiatras britânicos propôs como características para o diagnóstico da criança psicótica o seguinte:
- relacionamento problemático com as pessoas
- confusão de identidade pessoal e falta de consciência do eu
- preocupação excessiva com objetos
- resistência a mudanças
- sensibilidade extrema a estímulos sensoriais
- ansiedade anormal com mudanças
- perturbação da linguagem e da fala
- retardo no desenvolvimento intelectual
Acredita-se que fatores sociais, psicológicos e biológicos podem estar associados ao surgimento de psicoses infantis.
Assim, podemos dizer que a psicose se divide em três grupos:
- paranoia;
- esquizofrenia;
- autismo.
Neste último ponto, é importante salientar que nem todos os autores da Psicanálise enxergam o autismo como uma forma de psicose, não sendo ainda um consenso dentro da área de estudo.
Psicose não é psicopatia
No senso comum, e até mesmo pela semelhança nas palavras, muita gente costuma achar que psicose e psicopatia se referem a uma mesma condição, mas não é assim.
A psicopatia é uma categoria nosográfica específica da psiquiatria, além de estar relacionada também com o Direito no que diz respeito ao sujeito contraventor.
Ela também está relacionada especialmente às emoções, que tendem a ser superficiais, normalmente associadas a desvios de comportamento como ausência de culpa, desrespeito por normas etc.
Enquanto as psicoses acometem o funcionamento cerebral, criando uma relação problemática com o real, que se manifesta por meio de sintomas, a personalidade psicopática ou sociopata não é uma doença mental.
Dessa forma, não é possível estabelecer uma relação comparativa entre ambos, pois nascem em campos epistemológicos diferentes
Quais os sintomas da psicose infantil?
As psicoses infantis têm sintomas diversos, e mesmo casos que se enquadram em uma mesma categoria podem apresentar evolução e demandas diferenciadas. Vejamos os sintomas mais comuns.
- Confusão no pensamento, com emissão de frases desconexas e/ou sem sentido. Nesses casos, pode acontecer problemas de concentração e memória recente.
- Não se atém ao brincar, passando de uma brincadeira para outra sem que haja uma ponte entre as duas.
- Excessivamente subservientes ou sem disponibilidade para o brincar coletivo.
- Ideias bizarras, descoladas da realidade, conhecidos como “delírios”.
- Alucinações, como ouvir e ver coisas inexistentes.
- Transformações bruscas nas emoções.
- Mudança comportamental.
- Queda na produtividade diária em atividades rotineiras.
- Inércia na maior parte do dia.
- Comportamento antissocial, preferência por isolamento ou o inverso.
- Falar ou rir sem razão.
- Sintomas negativos, isto é, redução cognitiva e/ou atraso mental.
- Condução motora pouco habitual ou incompatível com a faixa etária, movimentos repetitivos.
- Transtornos de fala/linguagem como atraso na fala, estereotipias verbais, falha da função comunicativa da linguagem.
No entanto, como dito anteriormente, é importante deixar claro que estes fenômenos por si só não são suficientes para delimitar um quadro psicótico. É necessário ter uma escuta atenta da criança, de seus pais e ter uma perspectiva de trabalho que respeite e auxilie a criança em seu sofrimento psíquico.
Psicose infantil e autismo
Autismo é ou não uma psicose infantil?
Esse é um debate que atravessa o século 20, chegando até os nossos dias. Especialmente quando se trata de psicose infantil, muitos ainda mencionam o autismo como uma das psicoses possíveis nessa fase.
Se nos estudos iniciais sobre psicose o autismo é classificado nesse âmbito, em 1980 ocorreu uma revolução conceitual que buscou fazer uma revisão teórica e alinhar essa questão no DSM-IV-TR e no CID-10, manuais da área de saúde.
Assim, muitos profissionais da Psicanálise entendem o autismo como uma quarta estrutura, ao lado da psicose, da neurose e da perversão. Segundo estes autores, a etiologia do autismo se daria em um tempo da estruturação anterior ao tempo que a psicose se dá.
No entanto, ainda não existe um consenso acerca do debate.
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Psicose infantil tem cura? Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico clínico é feito através de várias sessões de psicanálise com a criança, na qual o brincar se tornará relevante para a construção de uma relação com o analista que poderá, ao mesmo tempo, perceber como a criança se posiciona em relação ao outro.
Além disso, também é possível oferecer modalidades de brincar que convoquem a criança a produzir sentidos diferentes em seu brincar.
No entanto, é importante lembrar que não se fecha diagnóstico clínico estrutural na infância, mesmo que a criança apresente sintomatologia psicótica.
Assim, não é utilizado o termo “cura”, já que, em um primeiro momento, não é considerado uma “doença”, mas um sofrimento psíquico na qual será pensada uma direção do tratamento.
Porém, é possível dizermos que através da psicanálise, a criança, em processo de constituição, poderá sair, sim, de um quadro de sofrimento psíquico e alcançar a apropriação simbólica da representação de si mesmo.
A intervenção psicanalítica como ação benéfica no quadro de psicose infantil
Mesmo não havendo consenso sobre o diagnóstico de psicose na infância, muitos autores consideram importante identificar pelo menos sintomas do que pode vir a ser um caso de psicose, a fim de tentar proporcionar ao paciente uma melhora em seu desenvolvimento.
No entanto, especialistas alertam para o fato de que o diagnóstico, bem como a intervenção, deve sempre observar as peculiaridades de evolução de cada caso, adequando o tratamento à realidade da criança.
Normalmente, na psiquiatria infantil a internação hospitalar temporária e o uso de drogas antipsicóticas auxiliam o restabelecimento do paciente em alguns casos.
Já na psicanálise, uma abordagem pautada na escuta diferenciada pode oferecer, por transferência, um redirecionamento da criança a uma possível simbolização e mudança de curso.
Mais do que isso, a psicanálise já avançou muito no sentido de entender que é necessário operar mudanças no sistema de linguagem que aprisiona a criança para reverter a alienação de que padece.
Separar a criança do discurso dos pais é fundamental para a retomada de uma autonomia e melhor conexão com a linguagem e a realidade.
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Orientação familiar
A insegurança com relação a crises, remédios, julgamentos e perdas sociais e os desafios que a condição impõe a toda a família são bagagens que adensam a existência do paciente.
Por isso, é necessário que tanto a criança quanto os familiares mais próximos façam acompanhamento psicológico ou psicanalítico para aprender a administrar melhor a realidade da psicose infantil e não culpar ou criar situações que adensem a condição da criança.
A psicose infantil está pautada numa história familiar, num discurso que põe a criança como problema – e é preciso se desvencilhar disso para ouvir a criança.
Pós-Graduação em Psicanálise com Crianças e Adolescentes
Diversos cases da prática clínica em psicanálise já demonstram como a intervenção pode ser benéfica no tratamento de crianças com transtornos psicóticos.
No entanto, a excelência da clínica está bastante atrelada à formação profissional, que permite ao psicanalista desenvolver uma capacidade interpretativa hábil para captar nuances que fazem toda a diferença na análise.
O IPOG – Instituto de Pós-graduação e Graduação, instituição conceituada no Brasil, pensou justamente nas especificidades que a clínica com crianças e adolescentes pode demandar e criou o curso Pós-Graduação em Psicanálise com Crianças e Adolescentes: Teoria e Clínica.
Essa especialização é destinada ao profissional que atua ou deseja atuar no âmbito da saúde ou educacional, lidando, muitas vezes, com psicopatologias infantis.
Assim, profissionais de psicologia, medicina, pedagogia e psicanalistas em geral podem conhecer as ferramentas da teoria e da prática.
São 432 horas/aula e a seguinte grade curricular:
- Fundamentos da Psicanálise com Crianças
- Constituição do Sujeito em Psicanálise
- Sexualidade Infantil, Pulsões, Édipo e Castração: o Caminho da Infância
- Teorias e Casos Clássicos em Psicanálise
- Desenvolvimento Integral do Potencial Humano
- Desenvolvimento Neuropsicomotor da Criança
- O Sintoma da Criança e o Sintoma dos Pais
- O Jogo, o Desenho e o Brincar
- Clínica com Bebês e Estimulação Precoce
- Manejos da Técnica com Crianças
- A Clínica com Adolescentes
- Problemas do Desenvolvimento, Diagnóstico e Medicalização na Infância e Adolescência
- Prática Clínica
- Aprendizagem, Linguagem e Escrita
- Autismos e Psicoses na Infância e Adolescência
- Angústia, Ansiedade e Fobias na Infância e Adolescência
- Fragilidade dos Limites na Infância e Adolescência
- Seminário de Apresentação de Casos
São diversas disciplinas que buscam aparelhar o profissional em múltiplas frentes, afinal, como é sabido, a intervenção psicanalítica em casos de psicose infantil tem desafios próprios, desde pôr a criança numa posição de sujeito ao discurso por vezes confuso e até mesmo as questões familiares que impactam a constituição subjetiva.
No entanto, por meio da análise, as crianças podem chegar a um espaço de produção e progressão que não seria aberto em outras instâncias.
Se você deseja saber mais sobre como uma especialização pode fazer a diferença neste e em outros cenários, entre em contato conosco!
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