Habilidades socioemocionais na escola: por que falar sobre isso?

Lista de exercícios, trabalho, provas, todas essas são maneiras consideradas eficazes para melhorar as notas dos alunos em disciplinas importantíssimas para o currículo escolar como matemática, física, química e muitas outras.

Entretanto, essa repetição não se mostra capaz de preparar o estudante para enfrentar os desafios que vivemos no século XXI, tais como trabalhar em equipe, ter empatia e lidar com as suas emoções. Ou seja, é preciso dar mais atenção às habilidades socioemocionais.

Modelo educacional tradicional X Atuais necessidades

A sociedade cobra desde cedo para que meninos e meninas sejam protagonistas do seu próprio desenvolvimento. No entanto, o ensino escolar tradicional ainda está arraigado a preceitos que almejam atender demandas que já não possuímos mais.

O ser humano precisa se desenvolver integralmente e por que não começar essa jornada rumo ao autoconhecimento desde a infância?

Se antes os colégios eram vistos como um espaço dedicado ao saber, atualmente é necessário que as instituições incorporem além do conteúdo, o compromisso de formação dos indivíduos. Tarefa que antes era uma competência da família, igreja, entre outros.

A proposta é que a escola não seja só uma instituição focada no saber técnico e comprometida apenas com a inserção dos seus alunos em uma universidade para que usem o estudo como uma forma de mobilidade e ascensão social. E sim, como um pilar para desenvolver um cidadão com valores, proatividade, perseverança e comunicação.

Habilidades socioemocionais na grade curricular

Durante uma entrevista ao Portal Educação, a psicopedagoga Anita Lilian Zuppo Abed afirmou que “não há como preparar as crianças e jovens para enfrentar os desafios do século XXI sem investir no desenvolvimento de habilidades para selecionar e processar informações, tomar decisões, trabalhar em equipe, resolver problemas, lidar com as emoções”.

O Ministério da Educação (MEC) entende que o mundo tem passado por mudanças e que a escola deve incorporar essas transições na forma como se relaciona com alunos, professores e pais.

Por isso, a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz algumas propostas com o foco para desenvolver competências emocionais e habilidades socioemocionais. Essas medidas devem incorporar o currículo de escolas públicas e privadas até o início do ano letivo de 2020.

Teoria Big Five

Entre os profissionais de Psicologia tem crescido o reconhecimento de que a personalidade humana pode ser analisada por meio de cinco dimensões que são conhecidas como Big Five ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores:

  • abertura a novas experiências,
  • extroversão,
  • amabilidade,
  • consciência e
  • estabilidade emocional.

Estas macrocompetências socioemocionais podem ser “ensinadas e aprendidas”. Além disso, elas são importantes para a boa convivência e para o desenvolvimento de projetos de vida entre outros.

Mas a implantação dessa teoria deve ser um papel de todos os membros da escola.

Contudo, antes de falarmos sobre a aplicação na prática dessa teoria no ambiente escolar, é importante mostrarmos de onde ela surgiu.

A teoria surgiu de uma análise das respostas de questionários sobre comportamentos representativos de todas as características de personalidade que um indivíduo pode ter. Em meados dos anos 30, o pioneiro do estudo Gordon Allport e seus colegas buscaram nos dicionários todos os adjetivos que poderiam descrever atributos de personalidade.

Raymond Catell, por sua vez, na década de 40, reduziu a lista em 171 termos que foram posteriormente agrupados em 35 conjuntos.

Já nos anos 60, pesquisadores detectaram os cincos fatores principais que resumiam a variação existente. Lewis Goldberg, Robert R. McCrae e Paul T. Costa, Jerry Wiggins e Oliver John, que são considerados os pais da teoria, contribuíram para a construção deste modelo que ficou conhecido como o Big Five.

Dimensões da Big Five

Como falamos acima, as dimensões da Big Five influenciam diretamente no aprendizados e podem ser ensinadas, aprendidas e praticadas.

  • A abertura a novas experiências promove nos estudantes a vontade de buscar os sentidos estéticos, culturais e intelectuais.
  • A consciência é um fator primordial para que os alunos aprendam a se organizar e a ter responsabilidade pelas próprias tarefas. Contribuindo então para o desenvolvimento de autonomia e disciplina para que possam alcançar as suas metas. A consciência é um fato que pode ajudar, inclusive, na proteção contra o envolvimento dos estudantes em atos de criminalidade.
  • A extroversão, por sua vez, auxilia no processo de interação entre os alunos e com o mundo externo. Além disso, pessoas com altos níveis de extroversão são amigáveis, sociáveis e entusiasmadas. Logo, quanto mais esta dimensão é desenvolvida, maior é a capacidade da criança ou do jovem fazer amizades.
  • Já a amabilidade atua de modo com que o aluno haja de forma cooperativa, sabendo trabalhar em conjunto de forma tolerante e aprecie as diferenças entre as pessoas. Esta dimensão age como um escudo e protege contra o bullying, por exemplo.
  • E por fim, a estabilidade emocional é a capacidade de lidar com as próprias emoções. A última dimensão do Big Five é importante para que o estudante aprenda desde cedo a ter autoconfiança, resiliência e autocontrole.

Impacto de ensinar sobre habilidades socioemocionais no ambiente escolar

Ensinar sobre habilidades socioemocionais e mostrar a aplicação delas desde o ambiente escolar possibilita um aprendizado completo e impacta no bem-estar da criança ao longo de toda a sua vida.

Um cenário que permite desenvolver essas habilidades influencia até mesmo na forma com que o estudante aprende determinadas disciplinas na escola.

Dessa forma, o professor pode entender e ajudar os alunos a se conhecerem melhor com o que os inspira, descobrindo o que gostam de estudar, o que os faz desistir, quais emoções os dominam quando fracassam, entre outras diversas possibilidades.

Além disso, é possível auxiliá-los na descoberta dos seus sonhos e qual caminho traçar para alcançá-los.

Um projeto no Ceará, que vem sendo trabalhado no ensino médio desde 2012, atrela as dimensões das habilidades socioemocionais com o aprendizado. E há casos como o da Escola João Mattos, de Fortaleza, que entre 2012 e 2013, teve uma redução de 6% na evasão escolar e o envolvimento dos estudantes com a instituição cresceu.

A mudança de postura dos estudantes com a inserção das habilidades socioemocionais na escola também foi sentida na sala de aula do Instituto Ayrton Senna. Segundo uma pesquisa realizada, os alunos mais responsáveis, focados e organizados aprendem em um ano letivo cerca de um terço a mais de matemática do que os colegas que apresentam essas competências menos desenvolvidas.

Por isso, professores, é importante estar atento a essas novas necessidades das gerações. E em sala de aula, ensinar muito mais que um conhecimento técnico, mas um conhecimento que seja para a vida.

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