A neurociência cognitiva é uma subárea da neurociência que se detém no estudo de processos mentais do ser humano, tais como o pensamento, a aprendizagem, a inteligência, a linguagem, a sensação e a percepção.
Parte-se da premissa que o método pelo qual o conhecimento é construído passa pelas experiências sensoriais, as interações dos cincos sentidos e, por que não dizer, de todo o corpo, com o entorno e seus estímulos do ambiente. Imagens, sons, aromas e outros estímulos são captados e processados, tornando-se informação.
Nesse âmbito, sabe-se que nem tudo da realidade do ambiente exterior é transformado em conhecimento; o encéfalo, responsável por todo o processamento dos estímulos, elege o que o manter e o que ignorar, criando distorções. Assim, tem-se uma realidade objetiva e uma realidade subjetiva, próprias de cada pessoa.
Mas e se fosse possível ter maior controle sobre os padrões de pensamentos e sobre a forma como as novas informações são captadas, processadas e armazenadas? A neurociência cognitiva se ocupa de questões como essa.
Neste artigo, vamos abordar como esse campo traz contribuições importantes para a aprendizagem, especialmente no âmbito da gestão de pessoas. Boa leitura!
Neurociência cognitiva e o processo de aprendizado
Um dos conceitos mais relevantes na neurociência, a neuroplasticidade aponta que o sistema nervoso pode ter as conexões neurais reestruturadas e reorganizadas a partir da aprendizagem e das experiências vividas.
Por exemplo, pesquisadores descobriram que aprender a tocar piano reorganiza o mapa do córtex cerebral, ampliando a área relacionada aos músculos dos dedos. Quanto mais jovem, mais rapidez e maior capacidade na plasticidade neural, ou seja, de se adaptar e fazer conexões.
Nesse contexto, a cognição é entendida justamente como o conjunto de processos pelos quais as experiências sensoriais são percebidas, transformadas, reduzidas, registradas, retomadas e usadas para um objetivo.
No cenário empresarial, esses achados da neurociência têm contribuído em muitas áreas, desde o desenvolvimento de capacidades de liderança até, no campo da gestão, treinamentos, desenvolvimento e construção de equipes.
É possível mobilizar diferentes aspectos e técnicas que otimizam o processo de ensino-aprendizagem, já que é possível impactar o processo da construção da realidade subjetiva e do conhecimento.
Confira algumas áreas das quais a neurociência cognitiva ampliou a compreensão:
Emoções
Inteligência e sentimentos conectam-se no processo cognitivo. Em linhas gerais, se nos eventos e estímulos captados houver forte associação com as emoções, a lembrança pode ser potencializada, trazendo implicações para o conhecimento em construção.
Quando as emoções positivas são estimuladas em detrimento das negativas no processo de aprendizagem, cria-se para a memória um contexto que favorece a retenção e os resultados.
Motivação
A motivação é um fator-chave para a aprendizagem. A exposição a interferências positivas é capaz de mobilizar a atenção, levando o indivíduo a se motivar. Contudo, diante de atividades muito difíceis, a tendência é que haja frustração, tornando o aprendizado mais árduo e, eventualmente, pouco eficaz.
Por essa razão, é importante, tanto no trabalho quanto em espaços educacionais e situações de desenvolvimento intelectual em geral, colocar-se diante de tarefas dinâmicas, diversas, curiosas, desafiadoras e motivadoras.
Atenção
A atenção é outro fator essencial para a aquisição eficiente de um conhecimento, afinal o processamento de dados no sistema nervoso e a posterior construção de um significado dependem de que a atenção esteja direcionada a algo.
Contudo, eventualmente, a atenção não atinge a sua melhor capacidade possível por falta ou excesso de estímulo. É preciso estabelecer a interação adequada entre o indivíduo e a informação.
Memória
A memória pode ser voluntária, quando deliberadamente se retoma uma informação, ou involuntária, quando um aroma, uma música etc. conduz ao processo de retomada. Em todo caso, a memorização está relacionada à repetição, mas também às associações e aos vínculos que se estabelecem com o conteúdo.
Na aprendizagem, é preciso buscar pontos de ancoragem para criar associações, sentido e retenção.
3 formas de integrar a neurociência cognitiva ao treinamento de equipes
Treinamentos de equipes são uma parte importante da gestão estratégica de pessoas e, quando eficientes, agregam muito valor para as empresas.
Esses aprendizados possibilitam alinhamento com processos, cultura e metas de uma organização, atualização de habilidades e mesmo aquisição de novas competências.
Como a neurociência cognitiva pode auxiliar nesse contexto?
- Fomente a associação de emoções aos treinamentos
Como dissemos, nem tudo no processo de aprendizagem é estritamente racional. As emoções auxiliam muito na memorização e nas associações cognitivas. De maneira simples, instrutores, gestores, líderes e demais condutores desse processo precisam apostar nas emoções positivas para criar memórias de longa duração.
Essas memórias são mais significativas para as pessoas e podem ser concebidas por meio de ludicidade e humor, mas também conduzindo a percepção de um sentido de aprimoramento pessoal, não apenas profissional.
Quanto mais valor emocional, mais motivação, melhor qualidade de aprendizagem, desenvolvimento de criatividade, capacidade de resolver problemas e propor inovação.
- Descubra o estilo de aprendizagem das pessoas
O cérebro humano é complexo, já sabemos, por isso as pessoas têm diferentes tipos de inteligência e diferentes métodos de aprender.
Obviamente em treinamentos há grupos de pessoas, o que implica uma heterogeneidade importante, por isso é fundamental que a aprendizagem combine diferentes tipos e formatos de atividades ou que haja uma alternância de estilos.
Algumas pessoas aprendem melhor lendo, outras com audiovisual, outras com mapas mentais e outras movendo-se. Ainda que não seja possível ofertar ampla variedade sempre, esse é um aspecto que sempre deve ser considerado.
- Crie um espaço propício ao aprendizado
Tanto a rotina de trabalho quanto o aprendizado podem ser prejudicados pela falta ou pelo excesso de estímulos, o que divide a atenção. Se não há atenção plena, o cérebro entende que aquela informação não é importante e pode ser ignorada.
Por isso, é importante que treinamentos não sejam interrompidos por interações com celulares, redes sociais e pessoas não envolvidas com a atividade. Interrupções não programadas impactam de forma negativa o aprendizado e a produtividade.
Dessa forma, locais silenciosos, com o mínimo de distrações e apenas o essencial em tecnologia são elementos essenciais de um espaço adequado para o aprendizado. Além disso, pausas programadas são benéficas para que o cérebro descanse e o corpo possa se movimentar.
Segundo um estudo da Universidade de Illinois, a prática de exercícios é capaz de ampliar as áreas do cérebro ligadas à atenção e à memória, o que mostra mais uma vez como todo o corpo está envolvido no processo cognitivo.
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