Qual a relação entre teatro e sala de aula?

Alguma vez você já parou para pensar que pode existir uma relação entre teatro e sala de aula? “Eu adoro fazer essa relação”, conta o professor Daniel Vieira, que dá aulas em vários cursos do IPOG, entre eles na Pós-Graduação do IPOG em Formação de Professores em Didática e Gestão Educacional.

Daniel Vieira conta que enxerga a sala de aula como um grande palco. O professor explica que por muito tempo, pensou-se que o professor era o ator principal e os alunos os espectadores durante uma aula.

Esse talvez seja o maior engano. O professor é como um diretor de teatro e os alunos são os atores que devem atuar. E a aula é esse grande espetáculo”.

Portanto, ele chama a atenção para a revisão do termo “dar aulas”, pois na verdade, o que ocorre, a partir dessa perspectiva apresentada, é a construção de uma aula e não apenas a transmissão de alguma coisa que é passada do professor para o aluno. Existe uma troca entre eles em sala de aula.

Teatro e sala de aula: rompimento de padrões

Toda essa abordagem de enxergar a sala de aula como palco e não ter mais o professor como protagonista parece muita novidade para alguns. Daniel explica que o motivo de todo esse estranhamento é natural, pois a estrutura tradicional que muitos conheceram e aprenderam nela, foi a de escolas em que o aluno era direcionado a:

  • “Faça isso”
  • “Responda isso”
  • “Decore aquilo”

Na prática, isso não tem trazido resultados positivos às pessoas. Por isso a importância de repensar esse modelo de educação.

Teatro como alternativa na sala de aula

Não se espante! Não se trata de encenar uma peça ou levar uma coreografia para os alunos. Nada disso! O professor continua exercendo o seu papel de educador. O que se propõe é uma nova abordagem.

Segundo o professor no IPOG, assim como no teatro, a aula é dividida em atos.

O que é um ato?

Segundo o dicionário, Ato é cada uma das partes em que se divide uma peça. Os atos são grandes divisões das cenas no teatro.

“Cada momento da minha aula é um ato”, explica Daniel Vieira. E como será que isso acontece na prática?

Ato I

Momento de ambientação, de apresentação das personagens. Daniel alerta que não é indicado que o professor chegue em sala de aula e já inicie com teoria.

[No caso da pós-graduação] O aluno chega em sala pensando nas contas que tem para pagar, no que deixou de fazer no trabalho ou nos problemas em casa. Ele ainda não está na sala de aula porque a cabeça está cheia de coisas. O desafio do professor é trazer esse aluno para a sala de aula”.

Essa ambientação deve acontecer no primeiro ato. No caso do formato das aulas do IPOG, Daniel explica que o primeiro ato é a aula de sexta-feira à noite.

Ao final desse primeiro dia, é importante que o professor encerre com um gancho. DICA: Uma história que começa a ser contada, mas que só será sequenciada na aula seguinte. Que tal? Isso funcionará como um gancho e gerará boas expectativas na turma.

Ato II

Essa parte da aula poderia ser descrita como a mais tensa. No caso das aulas no IPOG seria todo o dia de sábado. Daniel Vieira explica que é neste “Ato” que o professor apresenta as “complicações”. Em outras palavras, a teoria.

Essa parte da aula se dedica aos números, à parte mais densa do conteúdo.O professor deve buscar sempre apresentar a teoria fazendo uma conexão com os sentimentos e expectativas dos alunos.

No encerramento, lembre-se do gancho. DICA: Que tal continuar aquela história que começou ontem deixando a curiosidade aguçada para o grand finale no dia seguinte?

Ato III

Já que estamos falando da relação entre teatro e sala de aula, da mesma forma em que ocorre no terceiro ato das peças, na sala de aula esse momento também deve ser reservado ao clímax e à moral da história.

Na realidade que estamos exemplificando (aulas no IPOG) seria o domingo. Neste dia, Daniel explica que conduz a aula de maneira a deixar gravada a experiência vivida pelos alunos. Para isso, ele conclui a história contada desde o primeiro dia.

No entanto, não se trata de qualquer história. Trata-se de uma história estruturada, cujo objetivo ao chegar na conclusão é deixar as pessoas emocionadas.

“Como eu estou trabalhando o desenvolvimento de pessoas, eu quero que eles façam uma relação entre a história que eu contei com o conteúdo que eu apresentei durante o fim de semana de aulas”, explica.

Ele esclarece que não importa se o conteúdo envolve desenvolvimento, autoconhecimento, estipular metas, etc. O que importa é como as pessoas vão vivenciar esse conteúdo e internalizar tudo isso.

Eu conto de uma maneira de que todos eles vão se lembrar de mim, da minha aula e de um pouco da teoria”.

E ainda completa: “O que é eficaz! Porque se o aluno lembrar de parte da teoria, quando precisar dela, ele irá buscar nos livros. Não é necessário decorar tudo como era antigamente”.

Storytelling como elemento em sala de aula

Um elemento importante para que a aula funcione como uma peça de teatro, atrativa, envolvente e que convide todos a participarem, é utilizar a técnica do Storytelling. Segundo Daniel Vieira, o “contar histórias” faz toda a diferença e ainda contribui para o aprendizado.

As histórias contribuem para uma melhora do ambiente organizacional despertando emoções positivas. Se as pessoas estão confortáveis, satisfeitas emocionalmente, isso amplia a perspectiva do aprendizado”.

O professor também destaca que quando o indivíduo fala através de histórias, utilizando storytteling como técnica, são colocados elementos como desafios e conflitos, isso terceiriza a perspectiva do espectador.

O que isso significa?

Quando você escuta uma história sobre outra pessoa, você se abre para refletir. Existe inclusive menos resistência à mudança. Quem ouve começa a refletir a se perguntar: Como eu poderia fazer também? E se fosse eu neste caso? Como eu agiria se essa situação fosse comigo?

Dessa maneira, a partir dessas reflexões, o storytelling se torna uma ferramenta poderosa no processo de aprendizagem.

Conheça o seu público, no caso, seus alunos

Não importa o quanto o professor seja aberto à relação entre teatro e sala de aula ou o quanto ele aplique o storytelling com seus alunos, como em toda apresentação, a primeira coisa que se deve fazer é conhecer e entender quem é o público. Ou, nesse contexto em questão, quem são as pessoas que estão no ambiente da sala de aula.

“O que acontece é muitos professores têm a facilidade em colocar os alunos todos em um mesmo caixote, como se fossem todos iguais. E não é assim. Cada um tem a sua particularidade e quanto mais você entender quem são as pessoas que estão ali, mais fácil será para gerar uma experiência educacional que contribua para aquilo que se propõe”, destaca Daniel Vieira.

Por onde começar?

Para quem percebeu que é preciso inovar, investir nessa relação teatro e sala de aula… Para quem percebeu que o modo tradicional das aulas já não tem sido mais tão eficaz, a dica do professor é estar aberto às novidades. Aberto a novas possibilidades, para as novas metodologias, à didática.

“O professor precisa ser um eterno aprendiz também. Porque não se ensina se não existir essa via de mão dupla: ensinar e aprender”, alerta Daniel.

Por isso quem deseja mudar, deve começar olhando para si mesmo, segundo ele. Olhe para suas experiências educacionais. Como isso contribuiu. “Olhe para o seu próprio sucesso. Olhe para sua própria história!”

Resultados

Daniel Vieira se anima ao falar sobre quantos resultados essa união teatro e sala de aula, aliada ao storytelling, pode trazer para o professor. Não é a toa que ele vem desenvolvendo estudos e chegou a criar um termo: o Storytelling Positivo. E a consequência maior, é um ambiente mais favorável à aprendizagem para o aluno.

Na lista dos benefícios, estão:

  • Atenção do público
  • Ambiente de empatia
  • Distorção positiva do tempo (alunos “não veem o tempo passar)
  • Identificação de forças e potencialidades
  • Criação de um campo onde as pessoas sejam capazes de por novas ideias em prática para si mesmas.

Após a aula, o aluno precisa estar mais do que munido de novas ferramentas. Ele precisa estar encorajado, na opinião de Daniel. Por isso, o propósito de um professor precisa ser encorajar os alunos a buscar a transformação.

Eu quero que um aluno, mesmo depois de anos depois de uma aula, se lembre do que aconteceu. Que se lembre do quanto foi bom e de como aquela aula contribuiu para ele”.

E se você, ainda tem alguma dúvida se vale a pena aliar teatro e sala, usando a técnica de contar histórias, fica essa reflexão:

Conte-me e esquecerei. Mostre-me e lembrarei. Envolva-me que entenderei para sempre.”

Confúcio

Daniel Vieira: Mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial com foco em economia da experiência e coordenador do curso de MBA EaD Gestão Empresarial, Inovação & Estratégia Competitiva do IPOG.