Como a neuroarquitetura hospitalar vem contribuindo para espacialidades mais humanizadas e experiências singulares

Os ambientes destinados às mais diversas áreas da saúde predominantemente mostravam-se configurados de forma não tão acolhedora, não apenas em relação a natural tensão sentida diante de um espaço destinado à necessidade de tratamentos médicos, mas também de toda uma estrutura física que muitas vezes não foi projetada considerando as mais diversas necessidades de quem os frequenta.

A neuroarquitetura aplicada a ambientes de saúde torna-se então uma ferramenta para atender a essa demanda por equilíbrio, proporcionando espaços focados no bem-estar de funcionários, equipe médica, pacientes e acompanhantes.

Dessa maneira, projeto luminotécnico, temperatura, texturas, acústica, ventilação, espaços híbridos, biofilia, dentre outros elementos que compõem o design e o projeto arquitetônico desses ambientes passam a ser percebidos sob uma perspectiva diferente.

Afim de entender melhor a importância, os desafios e benefícios da aplicação da neuroarquitetura em ambientes de saúde, elaboramos este artigo com alguns insights para quem deseja investir nesse nicho. Boa leitura!

O que é neuroarquitetura?

Arquitetura e neurociência são campos distintos, já sabemos, mas o seu ponto de convergência para uma conexão reside no interesse em investigar a relação do homem com o meio, os ambientes que o cercam e suas percepções em relação aos mesmos.

A neuroarquitetura, ou seja, neurociência aplicada a arquitetura, é uma vertente que se ocupa em entender como o cérebro humano, suas percepções e sensorialidades se relacionam com os espaços construídos e suas configurações, assim como essa dinâmica é fundamental para uma melhor compreensão da reflexão comportamental das pessoas.

Dois dos precursores desta corrente são o neurocientista Fred Gage e o arquiteto John P. Eberhard, que, juntos, deram origem à The Academy of Neuroscience for Architecture (Academia de Neurociência para a Arquitetura) em 2003.

Os estudos da neuroarquitetura podem ser aplicados em diferentes contextos, a exemplo, ambientes comerciais, corporativos e até mesmo residenciais.

O foco é sempre se embasar na neurociência e projetar espaços construídos de forma mais humanizada, focada no usuário quanto às suas necessidades e demandas, promovendo assim um significativo acolhimento a estes.

Como pacientes são impactados pelo ambiente de saúde?

No ambiente empresarial já sabemos como a produtividade, as emoções e a saúde mental são impactadas diante de salas e estações de trabalho que não consideram as demandas de seus usuários e o tipo de trabalho ali é desenvolvido.

Cuidados em relação a acústica, ergonomia, fluxo de pessoas e poluição visual precisam fazer parte da concepção desses espaços para que quem ali trabalha possa desenvolver um saudável nível de concentração para as atividades laborais, apresentando assim um salutar rendimento e qualidade de vida no trabalho.

Similar cuidado e atenção devem ser considerados quando trata-se de ambientes de saúde, evitando assim um encontro com o tradicional espaço quase todo branco, iluminação artificial não humanizada, odores de medicamentos e assépticos, dentre outros aspectos.

É comum ainda configurações inadequadas dos referidos espaços  em relação às necessidades físicas e psicológicas do usuário, podendo vir a causar nestes reações comportamentais que não se mostrem adequadas ao seu momento de fragilidade.

Todo esse cenário, muitas vezes interpretado até mesmo como hostil, pode vir a configurar um elemento não contributivo às metas de repouso e recuperação que são recomendadas para os diversos grupos de pacientes/usuários. 

Vale lembrar ainda que há casos em que o ambiente pode ainda vir a não  proporcionar adequados estímulos que poderiam auxiliar no desenvolvimento positivo do quadro do usuário.

Desafios e soluções para a implementação da neuroarquitetura hospitalar

Propor a composição de um ambiente de saúde pode ser desafiador visto que inúmeras condicionantes devem ser pondera’’as ao longo desse processo.

Há sempre importantes ponderações como, por exemplo, criar um espaço adequado para as atividades do corpo clínico, enfermeiros e médicos, relacionar ambiente de de repouso, aconchego e estímulo na ala infantil, humanizar os espaços públicos de alimentação com o objetivo de propor um refúgio quanto às situações vivenciadas, dentre outros.

Alinhar essas necessidades é um processo em se percebe a contribuição que o emprego da neuroarquitetura traz a essa equação. Nessa análise considera-se ao menos quatro grupos de usuários: os pacientes, os visitantes/acompanhantes, o corpo clínico e funcionários, sejam esses administrativos, técnicos e fornecedores.

Dentro desses grupos, considera-se ainda que os pacientes podem ainda serem tratados por grupos específicos de atendimento: pediátrico, adulto, terceira idade, etc.

O profissional que assume um projeto dessa natureza deve ser capaz de conciliar os distintos interesses  envolvidos, além de fortalecer os pontos de convergência para obter um resultado mais equilibrado, humanizado e funcional para todso os usuários.

Como exemplo podemos citar a biofilia, prática explorada dentro da neuroarquitetura que se baseia em expandir o contato humano com a natureza. Os benefícios para a saúde e a qualidade de vida já foram catalogados cientificamente.

Nesse cenário, o design das espacialidades voltadas aos ambientes de saúde deve ser concebido de maneira mais holística, unindo estética, humanização, funcionalidade e acolhimento das necessidades dos usuários. 


>> Veja também: Acessibilidade no Design de Interiores

Pensar uma ala infantil ou uma UTI neonatal capazes de evocar o pleno desenvolvimento das crianças, assim como salas de cirurgia automatizadas, adequadamente iluminadas, que permitam melhor desempenho das atividades, ao mesmo tempo que proporcionando, por exemplo, salas de espera mais acolhedoras e ambientadas.

Especialmente no contexto do coronavírus a demanda por espaços que instiguem para além da consciência, isto é, capazes de realizar um convite sensorial capaz de  mudar o comportamento e as emoções, promover conforto e bem-estar e reduzir as tensões envolvidas, tornam-se uma mudança de paradigma muito benéfica. 

Muitas das propostas da neuroarquitetura volta a ambientes de saúde já são conhecidas e adotadas, mas como a neurociência é uma área complexa e em constante desenvolvimento, o seu viés voltado para a arquitetura sempre traz novidades a serem exploradas.

Especialização para atuar com neuroarquitetura 

A fim trazer um diferencial no currículo e impactar o mercado com projetos mais funcionais, equilibrados e humanizados, uma boa opção é investir em um curso de neuroarquitetura para compreender como sua aplicação ocorre em Arquitetura, Design e Iluminação.

Com o repertório teórico-prático do curso os profissionais têm a chance de atuar nos mais diversos nichos da Arquitetura e do Design. 

Se você tem interesse em dar um upgrade na carreira com essa formação, o IPOG tem em sua grade um curso de especialização nesta área. Fale conosco e saiba mais!

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Lorí Crízel: Arquiteto e Urbanista graduado pela Universidade Católica/RS; Mestre em Conforto Ambiental pela UFRJ; Membro do Comitê Especial Europeu de Pós-Graduação tendo atuado em: Inglaterra, Escócia, País de Gales e França; HA e Concept Designer – País de Gales, Inglaterra e França; Professor, Coordenador de Cursos e do Programa de Viagens de Estudos Internacionais do IPOG; Sócio-Proprietário do Escritório Crízel & Uren Arquitetos Associados detentor do Selo CREA/PR de Excelência em Projeto Arquitetônico; Atividades de imersão nos escritórios de Norman Foster (Londres), Zaha Hadid (Londres), Christian de Portzamparc (Paris), BIG (Copenhague), Hassell Studio (Cingapura), AEDAS Architecture (Cingapura), Architects 61 (Cingapura), Design Link Architects (Cingapura), Tandem Architects (Bangkok), DBALP Jam Factory (Bangkok) e X Architects (Dubai); Atividades Institucionais junto ao POLI.Design do Instituto Politécnico de Milão (Itália), McGill University (Canadá) e Universidade do Porto (Portugal).