Desde o surgimento da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) nos anos 1960 com o psiquiatra Aaron T. Beck, o campo se solidificou e foi expandido por outros profissionais ao longo do tempo. Entre as novas abordagens mais utilizadas dessa linha está a Terapia de Aceitação e Compromisso.
A ACT (Acceptance & Commitment Therapy), como é comumente chamada, tem sido eficaz na intervenção psicológica e terapêutica de diversos transtornos mentais como ansiedade, depressão, fobias, processos de luto, esquizofrenia, entre outros.
Uma das características dessa linha psicoterapêutica é a utilização da estratégia de mindfulness (atenção plena), que tem se popularizado na prática da Psicologia Clínica com excelentes resultados.
Neste artigo, traremos alguns insights importantes para conhecer a Terapia de Aceitação e Compromisso, suas bases, seus princípios e suas aplicações. Boa leitura!
O que é TAC?
A Terapia de Aceitação e Compromisso é uma abordagem dentro da linha de Terapia Cognitiva Comportamental que tem no seu modelo de intervenção psicológica dois aspectos centrais:
- a aceitação do que não pode ser controlado na experiência humana
- o compromisso com as ações para melhoria contínua
A ACT apareceu entre os anos de 1970 e 1980, com o nome de distanciamento compreensivo. O principal teórico dessa linha é o psicólogo clínico americano Steven C. Hayes, que acumula diversas obras de referência na área, integrando e atualizando as perspectivas cognitiva e comportamental.
A história da ACT é comumente dividida por especialistas em três fases:
- Décadas de 1970 e 1980: como distanciamento compreensivo, buscava explorar os princípios do comportamento verbal para uma clínica mais efetiva.
- Entre 1985 e 1999: surgimento da Teoria dos Quadros Relacionais (TQR), que fundamenta a Terapia de Aceitação e Compromisso.
- Anos 2000 até a atualidade: inicia com a publicação do livro Terapia de Aceitação e Compromisso: uma abordagem experiencial à mudança do comportamento, que solidifica a ACT como uma uma abordagem contextualista baseada na TQR.
Terceira onda comportamental
A chamada terceira onda da TCC se caracteriza por trazer a cognição ainda como foco, porém deslocando a ênfase do conteúdo para o contexto dos pensamentos, dos sentimentos e das sensações.
Em linhas gerais, segundo Hayes, os métodos dessa fase se caracterizam por cinco princípios comuns:
- Métodos e princípios contextuais
- Repertório amplo e flexível
- Adequação a clientes e clínicos
- Integração com outras vertentes de TCC
- Consideração de temas complexos, como valores e identidade
Princípios e aplicações da TAC
Várias vertentes teóricas são atribuídas à base da Terapia de Aceitação e Compromisso, entre elas o Pragmatismo, o Contextualismo Funcional, o Comportamentalismo Radical e a Teoria dos Quadros Relacionais (TQR).
Dessas filosofias, o Contextualismo Funcional e a TQR são proeminentes. A primeira objetiva a predição e a influência do comportamento, considera que toda ação se dá em um contexto e interage com ele. A segunda explora a relação da linguagem com o sofrimento psicológico e como ela o determina.
Fusão cognitiva
Trata-se de uma habilidade que relaciona contextos de linguagem (avaliar, seguir regras, literalidade) e processos psicológicos normais.
Os seres humanos estão fundidos cognitivamente com os pensamentos, as emoções, as lembranças etc. (eventos privados); a cognição protege de situações diversas, mas também pode conduzir à rigidez comportamental, o que incapacita a pessoa de ser sensível às dinâmicas situacionais, gerando disfunção e sofrimento.
Esquiva experimental
O ciclo que começa com a fusão cognitiva continua com a chamada esquiva experimental, na qual a pessoa tende a evitar pensamentos e situações desagradáveis que, gradualmente, vão restringindo a experiência individual.
A Terapia de Aceitação e Compromisso visa modificar o contexto funcional nesse cenário, fraturando a fusão cognitiva para modificar a relação do indivíduo com seus eventos privados.
Modelo unificado de mudança do comportamento
A ACT propõe um modelo que articula seis processos, visando alcançar a flexibilidade psicológica, isto é, a habilidade de estar em contato com o momento presente e de mudar o comportamento seguindo um conjunto de valores para uma melhor qualidade de vida.
Esses valores não são coisas estanques e objetivos a ser atingidos: antes, são definidos por padrões de comportamento específicos e dinâmicos, vividos momento a momento.
No esquema unificado, para cada processo psicopatológico que leva à inflexibilidade a Terapia de Aceitação propõe um processo funcional. Confira:
- Fusão cognitiva/difusão
- Evitação experiencial/aceitação
- Atenção rígida ao passado ou futuro/atenção presente (mindfulness)
- Self conceitualizado/self como contexto/observador
- Objetivos pouco claros, condescendentes ou evitativos/valores
- Inação, impulsividade ou evitação persistente/compromisso
O que a difere de outras terapias (da terceira onda também)?
Não há estudos que sustentem uma hierarquia entre as diferentes abordagens terapêuticas da terceira onda da Psicologia; o que as difere é, em grosso modo, o foco de atenção, e já se sabe que elas podem ser combinadas com êxito.
Confira as diferenças entre alguns modelos terapêuticos:
Abordagem | Foco central | Aplicação |
Terapia de Aceitação e Compromisso | O paciente é levado a aceitar situações negativas experienciadas e lidar com elas de forma ativa. | Depressão e transtornos de ansiedade, estresse no trabalho etc. |
Terapia Analítica Funcional | O paciente exibe o comportamento clínico nas sessões e, na relação terapêutica, buscam-se mudanças. | Transtornos de ansiedade, entre outros |
Terapia Comportamental Dialética | Orientada a modificar comportamentos de suicídio e parassuícidio. | Especialmente pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) |
Terapia do Esquema | Reavaliar vivências, relacionamentos e comportamentos padronizados que estão na raiz de transtornos. | Transtornos de personalidade |
Aplicações da ACT
A ACT não tem o foco de “curar o sofrimento humano”, mas sim de levar o paciente a observar seus pensamentos e sentimentos, as contingências nas quais o sofrimento emerge, a fim de que essas experiências não paralisem a existência.
Estudos ao redor do mundo já catalogaram a aplicação da TAC com resultados exitosos nos seguintes quadros:
- TOC
- Psicose
- Depressão
- Ansiedade
- Dor crônica
- Burnout
- TDAH
- Estresse pós-traumático
- Entre outros contextos em saúde mental
Saiba como escolher a melhor abordagem
A abordagem da ACT deve sempre se orientar em função da observância dos esforços ineficazes do paciente para resolver uma situação, do desenho dos valores para uma vida melhor, amparada no modelo unificado de mudança comportamental.
Para cada um dos seis processos que se articulam para criar a flexibilidade cognitiva, há uma série de práticas possíveis, desde a documentação em diário dos pensamentos e das reações internas de desconforto até a meditação intencional no presente, sem julgamentos, entre outros exercícios.
Terapia de momento presente e mindfulness: o que isso significa
Na Terapia de Aceitação e Compromisso, entende-se que o trabalho contínuo de evitar problemas e eventos privados desagradáveis pode levar a um enrijecimento da atenção, fazendo com ela esteja sempre no passado ou no futuro (os eventos que podem passar), deixando a pessoa psicologicamente ausente do presente.
O aqui e agora é o espaço em que se podem vivenciar as experiências em excelência; e as técnicas de mindfulness, como a meditação, auxiliam na elaboração da atenção flexível, sensível às contingências.
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A Terapia de Aceitação e Compromisso, de certa forma, quer mudar a relação dos indivíduos com os eventos privados, e não reconfigurar os eventos em si. Trata-se de pouco a pouco desenvolver estratégias para atravessar os problemas, sem se esquivar, e não ser atravessado por eles.
Muitos psicólogos, a fim de dominar os conceitos dessa abordagem e integrar as ferramentas da ACT na sua prática profissional, para potencializar os resultados de seus clientes e pacientes, têm buscado cursos de especialização.
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