“How to get away with murder”, “CSI”, “Criminal Minds”, “Mind Hunter”, “Law & Order”, “Dexter”, entre outras. São inúmeras as séries de televisão que representam o dia a dia dos profissionais peritos em Investigação Criminal.
Isso aguça a curiosidade do grande público em relação às particularidades das atividades desempenhadas nesse segmento.
Até porque, em cada episódio de Crime Scene Investigation (CSI), por exemplo, é possível aprender inúmeras técnicas que, de fato, são utilizadas por cientistas forenses no processo de investigação e resolução de um caso.
Inclusive, é sabido que os roteiristas de CSI buscavam aproximar cada história da realidade para aferir verossimilhança à trama.
Para você ter noção, Elizabeth Devine, roteirista e produtora de inúmeros episódios da franquia, não apenas é formada em biologia, como tem mestrado em ciência criminalística!
Em uma de suas masterclasses sobre escrita de roteiros, em São Paulo, no ano de 2013, Devine ainda revelou que havia um esquema bastante rigoroso em relação às criações de outros roteiristas da série.
Cada produção era submetida ao julgamento dos maiores especialistas em criminalística dos Estados Unidos.
Inspirados pela série, separamos, neste artigo, 5 técnicas e dicas de investigação criminal que você pode aprender assistindo ao seriado.
#1 Uso do luminol
Muito provavelmente você já viu Gil Grissom usando o luminol para descobrir se há a presença de sangue durante uma perícia criminal.
Afinal, quem comete um delito deixa rastros e é justamente através do trabalho de perícia que os cientistas forenses conseguem reconstruir a cena e o desenrolar de um assassinato, por exemplo.
Nesse sentido, assim como na série, peritos em investigação criminal utilizam o luminol na vida real.
A substância reage com o ferro presente na hemoglobina do sangue, provocando uma reação chamada quimiluminescência. Dessa forma, quando a substância é borrifada e existe a presença de sangue, é liberada uma luz azul possível de ser vista com as luzes apagadas.
Para quem gosta de se aventurar e engatar experimentos, o luminol pode ser feito em casa.
A substância é composta basicamente por: átomos de carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio, que posteriormente são diluídos em água oxigenada (claro que a eficiência do material não será a mesma do luminol).
Leia também como o estudo de manchas de sangue contribui com uma investigação criminal?
#2 Uma selfie diz tudo
No oitavo episódio da segunda temporada de CSI: Cyber – um produto da franquia que mostra o dia a dia de uma equipe de investigação criminal da Divisão de Delitos Cibernéticos – o espectador aprende que uma simples selfie pode revelar muito mais do que gostaria.
Na trama, o time de perícia digital, liderado pela cyber-psicóloga Avery Ryan – expert em psicologia criminal – precisa investigar o desaparecimento em sequência de várias mulheres, que apesar disso continuam atualizando as redes sociais.
O hacker da história consegue rastrear a localização das mulheres a partir dos metadados gerados pelas fotos compartilhadas nas redes sociais das vítimas.
Nesse caso, portanto, o cibercrime extrapolou a esfera virtual e, de fato, esse é um tipo de ataque cibernético que tem se tornado comum nos dias de hoje.
Aí, você pode estar se perguntando:
O que são metadados?
Metadados, metadata ou EXIF (Exchangeable image file format ou Formato de Imagem Alterável) são informações relacionadas à criação de uma foto. Essas informações são: data, horário, localização – via coordenadas – fabricante e tipo da câmera, dimensões, resolução em DPI, representação de cores, lente, tempo de exposição, sensibilidade ISO, abertura do diafragma, distância focal, modo de flash, balanço de branco, rotação da câmera e tags. Nesse sentido, metadados são uma espécie de registro de identidade de uma foto.
Esse conceito nos leva para a próxima técnica.
#3 Perícia audiovisual
Sim. Uma imagem vale mais que mil palavras, mas nem sempre representa a realidade. É por isso que existe a perícia audiovisual.
Assim, no seriado, inclusive, o Laboratórios de Perícias Audiovisuais dos Institutos de Criminalística, liderado por Archie Johnson, é bastante acionado durante a resolução de inúmeros casos, principalmente delitos cometidos no meio cibernético.
Afinal:
O que é perícia audiovisual?
Perícia audiovisual consiste no segmento da perícia forense e investigação criminal que utiliza de artifícios tecnológicos e técnicas para apurar conteúdo de áudio, imagem e vídeo armazenados em CDs, DVDs, pen drives, cartões de memória, celulares e computadores, entre outros dispositivos.
Da mesma forma que especializações e recursos tecnológicos, como a inteligência artificial, permitem uma averiguação completa dos dados, a habilidade de alterar uma imagem, vídeo ou áudio para lhes dar novos significados, está cada vez mais banalizada.
Basicamente, todo mundo sabe alterar uma imagem hoje em dia.
Dessa forma, esse ramo de investigação criminal utiliza de alguns métodos, como:
- Análise de Comparação de Locutor: evidencia o autor de um registro de voz captado de interceptações telefônicas e gravações em diferentes tipos de mídias.
Isso é feito por meio da análise de espectograma e através da análise de aspectos articulatórios e variações linguísticas;
- Análise de Conteúdo de Imagens: trata-se da identificação detalhada e precisa em imagem e vídeo;
- Análise de Verificação de Edição: permite a análise da veracidade de um registro. Portanto, identifica se um registro foi adulterado ou manipulado, por meio da inclusão ou exclusão de imagens ou áudio.
Dessa forma, pode-se perceber que a perícia audiovisual é um ramo que também utiliza dos conhecimentos da computação forense.
#4 Análise de linguagem corporal para detectar mentiras
Se uma foto pode evidenciar mais do que gostaríamos, imagine então o nosso corpo! A expressão corporal é, sem dúvidas, uma das principais formas de transparecer aquilo que não é dito.
Por sua vez, a análise da linguagem corporal é um artifício muito utilizado e importante para profissionais que seguem a carreira forense – durante a investigação criminal de diferentes casos – não apenas na telinha, como na vida real.
É uma maneira de tirar dúvidas acerca do suspeito e seguir pistas que valem a pena serem investigadas, já que algumas pessoas conseguem passar incólumes de detectores de mentira.
Nesse sentido:
O que é linguagem corporal?
Linguagem corporal é um modo de comunicação não verbal na qual a comunicação é estabelecida através de gestos, expressões faciais e pela postura do indivíduo. Assim, a expressão corporal surge antes da linguagem oral/verbal. Essa definição é do psicólogo e professor na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Albert Mehrabian – considerado pai dos estudos científicos da área.
Ainda segundo o professor Mehrabian, o ser humano transmite seus sentimentos e ideias na seguinte proporção: 7% verbal, 38% vocal (pelo tom de voz) e 55% facial (pelas nossas expressões).
Infelizmente, no Brasil, ainda são poucos os estudos disponíveis sobre detecção de mentiras através de análise de linguagem corporal.
Para peritos criminais, esse conhecimento é um dos mais utilizados para detectar mentiras durante interrogatórios, principalmente por aqueles que são adeptos à investigação apreciativa, segmento que utiliza a comunicação mais persuasiva e estratégica.
Nesse sentido, algumas técnicas de linguagem corporal são usadas por investigadores para estabelecer certo grau de empatia com o interrogado. São elas:
- contato visual: extremamente importante para construir confiança no decorrer do interrogatório;
- semi sorriso: essa expressão transmite a ideia de segurança e simpatia, o que também colabora com a criação de um vínculo;
- concordância: é importante fazer gestos afirmativos leves enquanto interlocutor fala, isso externa interesse;
- linguagem corporal aberta: isso ajuda a transmitir autoconfiança e força.
Essas leituras e técnicas nos leva para o nosso próximo ponto.
#5 Recolhimento de Impressões digitais
Você já deve ter percebido que o recolhimento de qualquer impressão digital é um dos primeiros procedimentos a serem feitos na cena do crime.
Afinal de contas, essa é uma das principais fontes de levantamento de suspeitos. No seriado, algumas técnicas de ciência forense são utilizadas para que a coleta de impressões digitais seja feita no local do crime.
Uma delas consiste no uso do vapor de iodo. Nesse procedimento, alguns cristais de iodo são levemente aquecidos em um recipiente fechado, juntamente com o material a ser examinado.
Logo, uma nuvem arroxeada se forma e esse vapor reage com a impressão digital, através de uma absorção física, evidenciando a imagem da impressão digital que está no objeto
Uma vez colhidas, as impressões digitais podem ser levadas para serem analisadas por diferentes departamentos, dentre eles o de Genética Forense.
Lá, eles fazem uma análise biométrica:
Como é o processo de análise biométrica?
De forma geral, esses são alguns os passos principais da análise biométrica:
- Passo 1: colocar a característica física ou comportamental a ser coletada à disposição da tecnologia de captura biométrica para o registro;
- Passo 2: após o registro, com o apoio de um software biométrico, ocorre a extração e análise das características coletadas;
- Passo 3: as características extraídas servirão para cadastro de identidade em algum banco de dados ou para efeito de comparação dos traços analisados com outros já armazenados.
#6 Análise das evidências
Se tem uma coisa que você com certeza aprendeu logo no piloto de CSI Las Vegas é que as evidências não mentem.
Independente das declarações colhidas dos suspeitos ao longo de cada investigação criminal, os cientistas forenses nunca se deixam levar pelo que é dito, e sim, pelo que a análise das evidências permite concluir.
De forma prática, no dia a dia, isso pode ser muito útil para você descobrir pequenas falhas de comunicação ou enganos que podem acontecer em suas relações de trabalho e pessoais, entre outras.
Mas, atenção: não vá sair por aí dando uma de Gil Grissom tentando resolver todas as questões que surgirem à sua volta.
Apenas esteja atento, saiba ligar os pontos e não faça afirmações sem provas.
Para analisar as evidências, no quadro operacional e funcional atual, as investigações criminais se desenvolvem, predominantemente, a partir de uma base empírica, por meio de métodos indutivo, dedutivo e intuitivo.
Veja a diferença entre cada uma dessas metodologias:
O que é método indutivo, dedutivo e intuitivo?
Os métodos indutivo, dedutivo e intuitivo têm a seguinte definição:
- indutivo: também conhecido como raciocínio indutivo ou simplesmente indução, se constitui numa linha de raciocínio que parte do particular para o geral.
Assim, a pessoa faz conclusões a partir de casos parecidos, através da pressuposição de uma verdade geral.
Essa metodologia pode ter uma grande margem de erro, tendo em vista, que é quantitativa.
Nesse sentido, ela tem como base números, estatísticas e não leva em consideração outros fatores, como testemunhas oculares, dentre outros.
- dedutivo: também chamado de raciocínio dedutivo ou dedução consiste num processo de análise da informação, no qual, são apresentadas conclusões que devem, necessariamente, ser verdadeiras.
Portanto, essa estrutura lógica de pensamento, precisa construir premissas verdadeiras, para a partir delas, seguir para novas descobertas, e assim, progredir na investigação criminal.
- intuitivo: conhecido como lições de coisas, surgiu a partir da valorização da intuição como fundamento para todo e qualquer conhecimento. Isto significa que a compreensão das coisas e do conhecimento é decorrente dos sentidos e da observação.
Durante uma investigação criminal, os três métodos podem ser acionados em diferentes estágios da resolução de qualquer caso.
Mas, vale ressaltar também que esses métodos contam com um amparo técnico-científico.
No Brasil, sendo assim, o método de tentativas e erros ainda é a base do trabalho investigativo.
Você também pode ser um cientista forense
A possibilidade de trabalhar com investigação criminal é muito mais tangível e necessário do que você imagina.
Foi isso que Juliana Neris percebeu quando decidiu ingressar no curso de pós-graduação Computação Forense e Segurança da Informação
“Como o acesso a internet expandiu e se tornou um meio de comunicação imprescindível para a sociedade, infelizmente, pessoas de má índole têm a usado para outros fins”, refletiu acerca da importância do curso.
De fato, esta é uma profissão muito importante para o segmento da investigação criminal, que usualmente desempenha as seguintes funções:
- Elaborar laudo pericial; organizar provas, e determinar as causas do fato;
- Examinar locais de crimes; busca evidências, seleciona e coleta indícios de materiais e encaminha peças para exames com ou sem quesitos;
- Reconstruir fatos; analisa peças, materiais, documentos e vestígios relacionados a crimes, fotografa e identifica as peças e materiais definindo o tipo de exame que deve ser aplicado;
- Efetuar medições e ensaio laboratoriais, utilizando e desenvolvendo técnicas e métodos científico.
O profissional forense tem um amplo leque de possibilidades de atuação e plano de carreira. Veja:
- Perícia em Informática;
- Perícia Contábil e Financeira;
- Perícia em Química Forense;
- Perícia de Engenharia Peritos criminais no local de crime;
- Perícia de Meio Ambiente (crimes ambientais);
- Peritos em Genética Forense.
Você se interessou pela atuação desse profissional? Saiba que os salários médios e iniciais do perito criminal giram em torno de R$ 8 mil. O profissional pode encontrar cargos com remunerações superiores a R$ 20 mil por mês.
Assim, você deve estar se perguntando:
Como se qualificar para ser um profissional forense?
Para se tornar um profissional forense você deve investir em algumas especializações da área. Neste segmento, o IPOG oferece os seguintes cursos:
- Computação Forense & Perícia Digital;
- Perícia Criminal & Ciências Forenses;
- Computação Forense;
- Química & Toxicologia Forense;
- Psicologia Criminal;
- Avaliação Psicológica.
Por isso, se você não é apenas um curioso, fã de “CSI” ou outras séries policiais americanas, vale a pena procurar por instituições de ensino respeitadas no ramo para realizar o seu sonho!
Até a próxima!