Liderança disruptiva: Uma forma compartilhada de exercer a condução de equipes
O que um ex-general do Exército norte-americano e um professor do MIT (Masachusetts Institute of Technology) têm em comum? Ambos estão dedicando parte de suas vidas para desenvolverem o estudo da Liderança Disruptiva, tendo se transformado em poderosos porta vozes dessa forma inovadora de conduzir trabalhos em equipe.
O general Stanley A. McChrystal, responsável por chefiar as forças americanas em missão no Afeganistão após os ataques de 11 de setembro, desligou-se do Exército para se dedicar ao estudo da liderança disruptiva, transformando-se em um dos mais importantes precursores desse mecanismo de gestão e tomada de decisão. Segundo suas próprias palavras ao se recordar das missões: “liderança era sobre conexão e um alto senso de missão. Então, todos que ali estavam eram como irmãos.”
McChrystal utilizou-se da comparação dos preceitos de liderança baseado na confiança, na transparência e na disposição de ouvir, enquanto estava no Regimento Ranger, cujo credo principal sempre foi “Eu nunca deixarei um companheiro atingido cair nas mãos do inimigo”; àqueles baseados na hierarquia centralizada, onde a liderança ocorre por meio da humilhação, em que a valorização do erro é o ponto focal.
Neste momento,o ex-general encontrou terreno fértil fora do Exército para conduzir um processo que tem contagiado grandes empresas, como as mais inovadoras sediadas no Vale do Silício.
Mas o que é afinal a Liderança Disruptiva?
Seguindo a máxima: ouça, aprenda, depois lidere… o general McChrytal desenvolveu as bases da chamada Liderança Disruptiva. Esse método diz respeito à forma como os líderes se relacionam com seus liderados, questionando e até mudando modelos hierárquicos rígidos. Tradicionalmente, tanto o Exército quanto as empresas se organizam sob a gestão de líderes que ditam o rumo dos seus liderados, sendo responsáveis integralmente pela condução da tropa, ou da equipe de trabalho.
No entanto, foi justamente a passagem do oficial pelo campo de batalha que o fez rever seus conceitos sobre esse rigor na liderança, ao notar que diante de situações extremas todos devem se inter-relacionar de forma compartilhada, pois a sobrevivência depende dessa relação saudável e igualitária mantida entre todos os integrantes da tropa. Não significa que a figura do líder desaparece, ela continua existindo mas de forma mais horizontalizada, sem a hierarquia rígida que o coloca acima dos demais membros da equipe.
A liderança disruptiva preza pela adaptação ágil às mudanças de cenários, tendo sempre o futuro em vista. À medida que percebe a importância da existência da cooperação de cada um dos membros da equipe, o líder disruptivo estimula o compartilhamento de ideias e o trabalho em equipe. Muitas vezes, essas equipes se organizam dentro de outras equipes, promovendo uma inter-relação entre elas como co-irmãs.
Apesar de parecer um modelo óbvio de gestão a ser adotado em todas as corporações da atualidade, a mentalidade pautada no rigor das hierarquias, dos chefes que dão as últimas palavras, ainda é a maioria no cenário atual.
As empresas que compreendem com melhor naturalidade os benefícios da liderança disruptiva são as startups, que já nascem dando crédito igualitário para a participação de cada um de seus integrantes, formando equipes que se inter-relacionam naturalmente, pois sabem que para o próximo passo dependem do andamento das outras equipes.
Lições tiradas do rigor militar
Durante as mais de duas décadas que o general McChrystal serviu às Forças Armadas Norte-Americanas, ele notou que a liderança militar estava focada na submissão de seus liderados, utilizando a humilhação como um poderoso mecanismo de reconhecimento de autoridade.
No entanto, em suas reflexões pessoais ele percebia que os líderes, assim como seus liderados, também cometiam erros. Na sua lógica pessoal, a melhor forma de contribuição para a evolução dos liderados seria uma relação que os encorajassem a ser melhores e não os fizessem se sentir piores. “A liderança disruptiva faz aquilo que nos parece óbvio: olha para o outro como ser humano, não como uma ferramenta inanimada que serve para cumprir ordens”, declarou em uma entrevista concedida à revista Rolling Stones.Com isso, McChrystal tem ajudado a desenvolver um conceito de liderança baseada no fortalecimento das qualidades pessoas e na interpretação de erros como forma de aprendizado.
Contribuição acadêmica
Longe do campo de batalha mas dentro do campus acadêmico, mais precisamente do MIT, o professor Otto Scharmer tem buscado sistematizar esse tipo de liderança ao conduzir estudo aprofundado sobre o assunto, e se dedicar a publicação de livros na área. Em sua análise, os líderes disruptivos devem antever o futuro para reagir às transformações sociais o mais rapidamente possível. Para ele, a liderança disruptiva é o caminho ideal para as organizações se adaptarem com mais agilidade às transformações futuras.
De maneira simplificada, ele levanta quatro questionamentos importantes sobre liderança:
- Diante de um cenário incerto, que futuro emergente é possível se discernir?
- Como lidar com o futuro emergente?
- Que estrutura econômica evolutiva pode nos guiar?
- Como podemos criar estratégias práticas que nos ajudem a operar a partir do futuro que queremos criar?
Para Scharmer, o líder disruptivo é responsável por antever os desafios futuros das organizações, para estimular coletivamente a busca por soluções. Ele deve agir como uma espécie de radar, detectando os desafios atuais que serão capazes de construir o futuro. Isso vem a ser o piloto do seu avião. Se você não consegue prever o futuro, então pode ajudar a construí-lo.
As startups conseguem traduzir de forma natural esse tipo de liderança, pois já nascem conectadas com os desafios futuros, cujo foco é a busca por soluções inovadoras. A liderança disruptiva está vinculada diretamente à criação do novo, do diferente, da melhoria contínua e das metas desafiadoras. O grande desafio reside, ainda, como qualquer processo de mudança,em implantá-lo em organizações cristalizadas pelos padrões hierárquicos rígidos. Um desafio que se mostra bastante compensador para aqueles que se aventurarem na árdua tarefa de “afrouxar as rédeas” e evoluir coletivamente junto aos seus liderados.
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