Saúde do trabalhador: como o bem-estar no trabalho pode tornar as organizações mais produtivas e menos promotoras do adoecimento
Dores no estômago, resfriados frequentes e até mesmo depressão são sintomas comuns de se encontrar em escritórios. Esses índices fizeram com que a saúde do trabalhador e o bem-estar físico e mental se tornassem prioridade no ambiente de trabalho.
Dados da Previdência Social brasileira mostram que, apenas em 2018, foram concedidas cerca de 8 mil licenças decorrentes de transtornos mentais adquiridos no trabalho. Em comparação a 2017, o número de afastamentos aumentou em 12%.
Devido a isso, empresas começaram a implementar programas de bem-estar no trabalho, afinal, o adoecimento de colaboradores não é vantagem para nenhum dos lados.
Licença paternidade prolongada, acompanhamento nutricional e psicológico e horário flexível são algumas das ações realizadas pelas empresas para diminuir esses índices.
No artigo de hoje, iremos falar sobre o que é saúde do trabalhador e a sua importância. Também vamos mostrar a influência do ambiente de trabalho no bem-estar, além de abordarmos práticas e intervenções que possam contribuir para a minimização de tais problemáticas.
O que é saúde do trabalhador?
A saúde do trabalhador é uma área dentro do campo da saúde coletiva. Ela é configurada como um conjunto de práticas para promover a proteção, recuperação e reabilitação da saúde. Para isso, é feita a vigilância sanitária e epidemiológica das condições do ambiente de trabalho.
Apesar de focarmos este artigo na saúde mental dos profissionais, esse termo também abrange a saúde física, que pode ser prejudicada por conta de locais insalubres, equipamentos inadequados e a falta de estrutura para a execução de suas atividades.
Como o ambiente profissional pode interferir na saúde do trabalhador
Os números apresentados deixam claro que o tema precisa ser urgentemente debatido, já que apenas dessa forma será possível encontrar soluções para a relação entre trabalho, bem-estar e saúde física e mental.
Aspectos como exigência excessiva, falta de reconhecimento, salários baixos, pressão por resultados e prazos impossíveis são alguns dos motivadores para que situações de estresse extremo sejam desencadeadas.
Além dessas questões, o profissional ainda precisa lidar com a própria cobrança e as expectativas de amigos e familiares. Tais pensamentos acabam se tornando uma armadilha fácil para as comparações e frustrações.
Esgotamento mental ou Síndrome de Burnout: o que é?
Esse estado de angústia, desmotivação e sentimento de culpa nem sempre culmina em depressão ou ansiedade.
O esgotamento mental já é um transtorno reconhecido por psicólogos. Também chamado de Síndrome de Burnout, é um distúrbio psíquico que causa o esgotamento físico, mental e emocional em decorrência do ambiente de trabalho.
Os sintomas variam entre o físico e psicológico. Alguns exemplos são:
- cansaço excessivo;
- irritabilidade frequente;
- insônia;
- sentimento de fracasso e incompetência constantes;
- dor de cabeça;
- dor no estômago;
- tonturas.
Não há restrição entre as profissões acometidas, no entanto, existem algumas em que a incidência é maior. São elas professores, bombeiros, assistentes sociais, agentes penitenciários e profissionais da saúde, em especial, enfermeiros.
O tratamento é feito com profissionais, como psicólogos ou psiquiatras (caso seja necessário o uso de medicação). Em algumas situações, é necessário se afastar do trabalho por um tempo.
O bullying profissional é um agravante na saúde do trabalhador
Outro fator de adoecimento no trabalho e pouco citado em pesquisas é o bullying. Apesar de frequentemente associando ao ambiente escolar, não é raro encontrar casos em empresas.
O bullying corporativo se apresenta de forma semelhante à escola, com apelidos pejorativos, ressaltando características negativas ou situações de constrangimento constante. Pode ser feito pelos próprios colegas de trabalho ou, até mesmo, por seus líderes.
Nesse contexto, muitos profissionais preferem esconder um diagnóstico de adoecimento mental, sente-se até culpados ou não dignos de um afastamento do trabalho.
Essa situação, se feita constantemente, pode levar até mesmo à depressão, ataques de pânico, baixa autoestima e, em casos mais extremos, suicídio.
Cada profissional reage de forma distinta às pressões do trabalho
Neste quesito, é preciso salientar que cada profissional irá reagir de formas diferentes a determinadas situações. Por isso, é importante que os gestores estejam atentos aos profissionais como indivíduos e não a equipe como um todo. Nem sempre o ambiente é tóxico para o time por completo.
E, se estamos falando da atividade de gestão, esse aspecto, em especial, precisa ser tratado com cautela. Muitas vezes, casos de abusos psicológicos são feitos sem que algoz e vítima percebam, dificultando o diagnóstico dos sintomas.
Nesse sentido, é importante pensar que o estilo de liderança pode influenciar a saúde do trabalhador de forma direta. Ter uma gestão positiva, por exemplo, torna o líder inspirador, desenvolvendo sua equipe. Dessa forma, ele afeta o ambiente e o bem-estar do trabalhador, mas de forma positiva.
Ainda mais ao pensar que situações de estresse e cansaço em demasia não normalizados no ambiente de trabalho.
Portanto, tanto o colaborador quanto o líder precisam ter entendimento concreto sobre o tema, daí também vem a importância de estabelecer espaços de conversa e desenvolver programas que tragam à tona a saúde do trabalhador.
Por que é importante investir na saúde mental de profissionais?
De acordo com pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR), uma organização sem fins lucrativos, os transtornos mentais e emocionais são a segunda causa de afastamento de serviços.
Essa situação acontece porque, com frequência, os pacientes só percebem o estado de adoecimento em seu auge. Nesse ponto, se torna necessário o afastamento e o tratamento especializado com psicólogos ou psiquiatras.
A demora no tratamento, muitas vezes, está ligada ao fato de que transtornos de ordem mental como depressão, ansiedade e fobias sempre foram colocadas para escanteio por não serem uma dor física, vista muitas vezes como “frescura”.
A falta de um colaborador gera custos e diminui o ritmo de trabalho
É frequente que pessoas acometidas por tais doenças se mantenham até 100 dias longe das suas funções. Não é preciso dizer o quanto isso influencia na dinâmica de uma empresa, certo?
Além do gasto financeiro, existe o impacto nos colegas de trabalho. Eles precisam se doar mais às atividades para cobrir a falta da pessoa adoecida.
A Society for Human Resource Management (SHRM) diz que os supervisores podem gastar até 4 horas semanais suprindo faltas, já que isso inclui alteração no fluxo de tarefas e realocações. Nos casos de afastamento por muitos dias, também é necessário o treinamento para quem for substituí-lo.
A saúde do trabalhador debilitada causa danos a produtividade
Ademais, a saúde mental de profissionais está diretamente ligada à sua produtividade e rendimento no trabalho.
Consequentemente, as pessoas adoecidas, antes mesmo de se afastarem do serviço, não estão mais produzindo como antes.
Isso é chamado de presenteísmo. Ele acontece quando o colaborador vai trabalhar mesmo se sentindo doente.
A pesquisa realizada pela Isma-Br também traz o dado de que 92% das pessoas que se sentem incapacitadas para o trabalho e que até mesmo têm permissão médica para o afastamento, não o fazem por medo de serem demitidas ou não conseguirem voltar.
Em primeiro instante, sob o ponto de vista da empresa pode ser mais lucrativo mantê-los ali, no entanto, não estão sendo produtivos.
Dinâmicas e processos para tornar o ambiente de trabalho saudável e produtivo
Apenas 18% das empresas possuem programa para cuidar da saúde mental dos trabalhadores.
Muitas ainda não compreendem que investir no bem-estar do colaborador é uma forma de investir no próprio negócio. Afinal, o motor de uma empresa são seus funcionários.
Por esse motivo, investir em Programas de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) que sejam bem estruturados por especialistas em Psicologia Organizacional e do Trabalho é fundamental.
Através de uma pesquisa realizada com 40 sites de empresas que atuam no campo da Qualidade de Vida no Trabalho, foi desenvolvido 10 ações para a promoção e prevenção da saúde no ambiente de trabalho.
Existem diversos processos que podem ser aplicados no ambiente profissional a fim de tornar a saúde do trabalhador benéfica, vamos citar alguns exemplos.
Reuniões e dinâmicas em grupo
Para manter o bem-estar no trabalho, muitas empresas estão investimento no fortalecimento do sentimento de equipe.
Para isso, recorrem a reuniões e dinâmicas em grupos que podem ser semanais ou mensais. Esse método consiste em um momento descontraído durante o expediente, que pode abordar assuntos pertinentes ao trabalho ou outros.
Essas reuniões e dinâmicas são importantes para tirar a tensão do dia a dia. Além disso, permite que os colaboradores tenham contato entre si, sem que o intuito seja o trabalho.
Para saber como desenvolver integralmente o potencial humano e aplicabilidades, confira o nosso Webinar com os professores Luciano Meira e Dorothy Irigaray!
Cursos financeiros
Administrar as finanças é uma das principais preocupações hoje. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias com algum tipo de dívida é de 60,1%, só em janeiro deste ano.
Por isso, um modo de aliviar as preocupações e contribuir para a saúde do trabalhador é ofertar cursos ou palestras com o tema de finanças. Podem ser relacionados a investimentos, organização financeira, modos de poupar etc.
Programas de benefícios
Oferecer aos seus colaboradores programas de benefícios, como descontos em medicamentos, escolas, livrarias, restaurantes etc.
Também é possível pensar em programas de promoção à saúde, como palestras e consultas nutricionais, psicológicas, meditação etc.
Os programas de benefícios são interessantes à medida que mostram ao colaborador a sua importância para a empresa. É comum o sentimento de desvalorização e de ser apenas uma máquina de resultados. Por isso, o programa de benefícios é uma boa pedida!
Espaços recreativos
É uma tendência em empresas de tecnologia e startups, como Google e Nubank, a criação de espaços recreativos para os profissionais relaxarem no trabalho.
Lanches a disposição, puffs, mesa de bilhar, video-games, são algumas das possibilidades na hora de criar esses espaços.
É claro que essa liberdade funciona para times maduros, responsáveis e comprometidos.
Não é preciso muito para investir na saúde do trabalhador no ambiente profissional.
Além das possibilidades que citamos, pequenas atitudes podem ser um começo:
- lembrar o aniversário e presenteá-lo com algo, mesmo que seja simbólico;
- deixar lanches disponíveis;
- flexibilizar os horários etc.
Ainda que o ambiente de trabalho possa ser estressante, é possível condicionar o pensamento para torná-lo mais leve.
Essas ações devem ser alinhadas com programas de intervenções bem estruturados, pois do contrário torna-se um verdadeiro ofurô corporativo, como afirmou Mario Sérgio Ferreira, pesquisador na área de qualidade de vida no trabalho.
Ou seja, é preciso identificar os fatores estressores no trabalho, planejar mudanças que visam a saúde, o bem-estar e a consequente produtividade no trabalho.
A felicidade pode ser um exercício
A psicologia positiva é uma vertente da psicologia que acredita que o modo como enxergamos um problema pode ser condicionado.
Desse modo, ao mudar a sua perspectiva em relação aos problemas, eles não serão vistos como algo maior do que aparentam. Entender o mundo a partir de uma visão ampla é um modo de resguardar a saúde mental e se importar com o que realmente merece atenção.
Curso da Felicidade é um dos mais concorridos em Harvard
Uma das universidades mais conceituadas do mundo, Harvard, há 10 anos disponibiliza curso que ensina os alunos como encontrar a realização profissional e pessoal.
Ministrado pelo professor Ben-Sharar, esse é um dos cursos mais concorridos, chegando a ter mais de 1.000 inscritos.
Ele viu a necessidade de criar o curso por ter vivido uma experiência de infelicidade na profissão. Apesar de estar bem estruturado, não se sentia realizado e, dessa forma, notou que haviam muitas pessoas na mesma situação.
Ben-Sharar baseia os preceitos do curso na psicologia positiva. Ele faz com que o trabalhador ganhe mais confiança nas suas atividades e modifique o ponto de vista na hora de encarar as dificuldades.
A grande procura pelo curso mostra que o tema da saúde do trabalhador tem se tornando uma preocupação em um grande número de pessoas, tornando claro a necessidade de mudar o modo como enxergamos nossa relação com o trabalho.
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