As mudanças e desafios no processo de internacionalização das instituições brasileiras de ensino

Student in London

Pense na sua vida trinta anos atrás. Se você usava computador, ele era pouco potente, tinha uma tela preta com letras verdes. Se você fazia musculação era em uma pequena academia, as compras do dia a dia eram feitas em açougues, mercearias ou padarias, e boa parte das vezes você conhecia o dono da farmácia, seu médico, dentista ou jornaleiro.

Se você teve a oportunidade de concluir o ensino superior nessa época, estudou muito para passar em um vestibular muito disputado. O ensino superior o preparou razoavelmente para o mercado de trabalho, em um ambiente de negócios local e pouco sofisticado. Palavras ou expressões como big data, internet of everything, cloud computing, radio-frequency identification, outsourcing, insourcing, marketing online, inbound e tantas outras essenciais para entendermos o complexo ecossistema do qual fazemos parte, não existiam em nossos glossários empresariais.

Pense na sua vida hoje. Provavelmente você usa a internet para movimentar sua conta bancária, para comprar suas passagens aéreas, roupas, calçados, ingressos para cinema ou teatro, reservar restaurantes ou até para conhecer o amor de sua vida. A academia que você frequenta, o médico, o dentista, onde você compra, tudo isso pertence a grandes corporações, muitas vezes multinacionais, que faturam bilhões e com as quais boa parte das vezes interações são feitas não mais com humanos, mas com máquinas ou softwares sofisticados.

Grandes empresas complexas, inteligentes, internacionais, que enfrentam desafios enormes em suas operações internacionais e demandam profissionais com experiência global. O novo paradigma de competitividade desconsidera barreiras como fronteiras, idiomas e culturas. Os recursos humanos desejados por essas organizações são multiculturais, globais e com formação internacional. Eles irão trabalhar em corporações sem fronteiras, inteligentes e com grandes investimentos em pesquisa e inovação, inseridas em ecossistemas de inovação globalizados.

As instituições de ensino superior brasileiras, em sua maioria, estão preparadas para atender essa demanda? Dificilmente.

O protecionismo, o corporativismo e a burocracia historicamente criaram e ainda criam sérios entraves para a inovação e a internacionalização dessas instituições. Os obstáculos para a revalidação e o reconhecimento de diplomas de graduação, mestrado e doutorado realizados fora do Brasil criaram um grande desestímulo ao intercâmbio acadêmico e às especializações em outros países.

Os entraves legais para os pesquisadores das Universidades trabalharem em projetos práticos nas empresas, as dificuldades de empresas aportarem recursos nos centros de pesquisa acadêmicos, a falta de incentivos à alianças estratégicas com centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação internacionais deixaram o Brasil de fora dos ecossistemas de inovação globais, em que centros de pesquisa, universidades, empresas, governos e o terceiro setor se unem na criação de círculos virtuosos de crescimento socioeconômico.

A boa notícia é que isso está mudando. A lei 13.243/2016, o novo Marco Legal da Ciência, Inovação e Tecnologia, entre outras coisas, permite a professores de universidades públicas, em regime de dedicação exclusiva, que exerçam atividade de pesquisa também no setor privado com remuneração. Além disso, ela cria mecanismos de fomento, apoio e gestão adequados à internacionalização e atração de centros de P&D+I estrangeiros.

Por outro lado, a Resolução CNE/CES nº 3, de 22 de junho de 2016, torna mais simples e rápida a revalidação de diplomas de cursos de graduação e o reconhecimento de diplomas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), expedidos por Instituições estrangeiras de ensino superior.

O efeito combinado a médio prazo destas importantes mudanças pode ser fundamental para um novo ciclo de crescimento para o país. Com a tramitação simplificada dos processos de reconhecimento de diplomas, que agora será feita em um período de três a seis meses e de forma mais transparente e menos subjetiva, espera-se que centenas de milhares de brasileiros busquem realizar suas pós-graduações em Instituições estrangeiras que atendam às suas expectativas em relação à qualidade, networking, área de pesquisa ou pela experiência internacional que isso trará ao seu currículo.

Estes mestres e doutores lecionarão em cursos de graduação e pós-graduação no País, integrarão e serão líderes em projetos de pesquisas cada vez mais alinhados às demandas das empresas, organizações públicas, universidades, Municípios, Estados e União.

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A criação de ecossistemas de inovação, com empresas nacionais e multinacionais, universidades brasileiras e estrangeiras com seus centros de pesquisa integrados às demandas de um crescimento sustentável, além do Estado fazendo a sua parte, com políticas públicas inteligentes, integradas, modernas e sustentáveis pode resultar no direcionamento que esperamos em direção a um Brasil do futuro, competitivo, moderno e motivo de orgulho para todos nós.

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Marcelo Saraceni: Mestre em Administração. Presidente da Associação Brasileira de Instituições de Pós Graduação, Diretor Geral da ESAD Escola de Administração e Negócios, Consultor e Gestor responsável pela concepção, planejamento e implementação de programas de pós graduação em colaboração com a Universidade de Brasília, Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro, Universidade Federal do RJ e diversas outras Instituições de Ensino Superior públicas e privadas, com MBA em Marketing e RH pela ESAD e Gestão Empresarial pela FGV, MBA Extension Foundation Disciplines pela Ohio University e Mestre em Administração de Empresas pelo ISCTE - Portugal. Coordenador do MBA EaD Gestão, Inovação & Negócios de Instituições de Ensino do IPOG.